Farmanguinhos, Unifesp e Centro de pesquisa da Argentina desenvolvem projeto conjunto voltado para estudo de princípio ativo de medicamento


 

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) recebeu a visita de pesquisadores do Centro de Excelencia en Productos y Procesos (Ceprocor), órgão público argentino destinado à prestação de serviços de pesquisa e desenvolvimento de produtos, tanto para o governo quanto para o setor industrial privado, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O encontro faz parte da agenda estabelecida na cooperação técnico-científica firmada no ano passado envolvendo as três instituições.

 

Coordenador do projeto em Farmanguinhos, Helvécio Rocha, do Laboratório de Sistemas Farmacêuticos Avançados (LaSiFA), explica que a cooperação foi motivada por um questionamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto ao princípio ativo do antiparasitário mebendazol. Segundo o pesquisador, a Agência Reguladora brasileira recorreu a eles por estar se posicionando de forma mais contundente nos pedidos de registro e renovação por parte dos fabricantes do medicamento em questão.

 

“Eu e a Silvia Cuffini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), recebemos nominalmente da Anvisa o questionamento quanto à qualidade do mebendazol que estava sendo utilizada na fabricação de comprimidos e suspensões distribuídos no mercado nacional”, frisa. “De qualquer forma, para uma mudança mais efetiva da legislação, algumas questões precisam ainda ser respondidas, por isso estabelecemos a parceria. Esperamos concluir o estudo em dois anos”, destaca. Rocha explica que o projeto foi aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em um edital específico de cooperação Brasil-Argentina.

 

Mais projetos no radar – A visita contou com a participação dos pesquisadores Marcelo Ceballos e Ismael Bianco, sendo este último um dos diretores do Ceprocor. A instituição argentina atua em diferentes segmentos, tais como alimentos, saneantes, vacinas, fármacos e medicamentos. Desta forma, o acordo visa ao intercâmbio científico entre os pesquisadores dos três órgãos, mais especificamente para estudo e caracterização do estado sólido do princípio ativo do mebendazol. Participaram também da reunião Silvia Cuffini e Rogeria Costa, da Unifesp, e Livia Prado e Beatriz Patricio, de Farmanguinhos.

 

A partir da esquerda: Marcelo Ceballos, Rogeria Costa, Ismael Bianco, Silvia Cuffini, Beatriz Patricio, Livia Prado, Helvécio Rocha (Foto: Edson Silva)

Durante a reunião no Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM) foram exploradas outras possibilidades de colaborações futuras. “Foi muito positivo saber que o Ceprocor está em fase final de construção de uma planta farmacêutica para fabricação de medicamentos oncológicos com base em nanotecnologia. Considerando nossa atividade nesta área, esperamos poder estabelecer mais alguma parceria”, observa.

 

Um fato que chamou a atenção dos pesquisadores de Far é o elevado número de patentes do Ceprocor licenciadas para empresas. “É uma sinalização clara do apelo comercial de seus projetos. Eles, de fato, parecem estar trabalhando de forma muito integrada às demandas que tenham uma aplicação clara”, observa.

 

Helvécio observa que a amplitude de atividades do Ceprocor pode despertar o interesse de outras unidades da Fiocruz em estreitar laços com o órgão argentino. Neste sentido, foi realizada uma reunião com a Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz (VPPIS) a fim de analisar as conveniências para ambos os lados.

 

“Vamos agora iniciar um trabalho de divulgação do Ceprocor em busca de outras oportunidades na própria Fiocruz. Por exemplo, eles desenvolveram uma formulação de interferon peguilado, da mesma forma como hoje Bio-Manguinhos está recebendo tal tecnologia de Cuba. Além disso, estão desenvolvendo padrões de substâncias relacionadas para fornecimento pela Farmacopeia Argentina e isso poderia ser uma ótima oportunidade para uma interface com o INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fiocruz). Há inúmeras possibilidades e vamos avaliar quais delas seriam mais viáveis”, assinala Helvécio Rocha.