“Quem não gosta do samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”, já cantava Dorival Caymmi, em “Samba da minha terra”.

E não tem como falarmos do nosso entrevistado gente boa, sem falar do samba. Logo ele que é muito fã desse gênero musical, que desfila no carnaval, toca instrumentos de percussão, e, ainda, leva nome de escola no sobrenome. Rufam os tambores porque Jacob Portela, da Assessoria de Gestão Social, pede passagem na sua telinha.

Filho de português com pernambucana, Jacob foi criado no subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro de Vista Alegre, e teve uma infância simples, mas feliz:

“Naquele tempo, éramos livres, já que podíamos brincar na rua sem essa preocupação que há hoje por conta da violência. Eu era ‘rueiro’, gostava de jogar bola, de correr atrás de doce de São Cosme e São Damião… época que não existia também todas essas tecnologias, como o celular, então pude viver uma infância interessante“, retrata.

Diferente desse período, hoje, como parte do seu trabalho, ele precisa se preocupar com a criminalidade. Atuando há 10 anos na área de Gestão Social de Farmanguinhos, desde que tomou posse como servidor, Jacob tem visto os impactos causados pela violência de perto. 

“Com o passar dos anos, a situação tem piorado. Novas ocupações têm surgido no entorno do CTM e nós, da Gestão Social, temos nos adequado para articular com a comunidade, ter uma atuação mais direta e estratégica, não somente assistencial. Além dos projetos, apoiamos e fortalecemos as políticas já existentes na comunidade, visando planejar em conjunto, em sintonia com os anseios locais e das pessoas que vivem ali”, enfatiza.

Formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em Ciências Políticas pela Universidade Federal Fluminense (UFF), antes de ingressar em Farmanguinhos, foi bolsista na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) e também professor de Sociologia e História em escolas públicas e universidades privadas, dedicando-se 20 anos ao magistério. Foi na Unidade que ele teve o primeiro contato com a área de responsabilidade social:

“Eu nunca havia trabalhado nesta área, não tinha inserção em projetos sociais. A minha atuação, até antes de entrar na Fiocruz, como Sociólogo, como Cientista Social, era na prática docente. Essa nova fronteira se abriu quando passei no concurso e fui trabalhar na área de Gestão Social.  A partir daí, de fato, eu comecei a me inteirar nos projetos sociais do setor para o entorno da CDD, ampliei minha ideia, e passei a ser um articulador junto à comunidade”, conta.

“Não devemos servir de exemplo para ninguém, mas podemos servir de lição“. Mario de Andrade

Sobre a sua trajetória profissional, Portela destaca alguns momentos:

“Todos os projetos são especiais, mas existem dois que me marcaram. O primeiro deles é o Turismo Pedagógico, realizado em 2011, onde levávamos um grupo de alunos de três escolas públicas da comunidade para conhecer alguns pontos turísticos do Rio e que tinham a ver com os conteúdos que eles estavam aprendendo em sala de aula, tais como o Museu Histórico Nacional, a Ilha Fiscal e a Biblioteca Nacional. A maioria dessas crianças não nunca tinham saído da comunidade e a tinham como única referência. Com o projeto, elas puderam ver que há um mundo aqui fora a ser explorado, que é muito diferente da realidade deles. Um aluno, inclusive, ficou encantado ao ver a Perimetral, algo tão normal para a gente. Outro foi o Natal Solidário do ano passado (2018), quando trouxemos a proposta do Papai Noel tropical. Eu pensei que haveria rejeição, por fugir do padrão daquela roupa vermelha, mas, pelo contrário, as crianças me receberam com tanto carinho, me abraçavam e conversavam comigo. Percebi que para elas era mais do que um personagem, aquilo simbolizava harmonia e afeto, algo diferente do contexto violento que elas vivem”, relata emocionado.

Acerca do futuro, ele revela que seu desejo é se aperfeiçoar ainda mais na área de gestão social para poder oferecer, cada vez mais, um trabalho adequado à comunidade do entorno e com qualidade:

“Procuro sempre participar dos cursos oferecidos pela Instituição para me manter atualizado, ainda mais neste mundo dinâmico que vivemos, onde as mudanças ocorrem de forma rápida. Percebo isso aqui no entorno, com o avanço das ocupações, com as mudanças das lideranças, com a crise que assola o país e que com a escassez de recursos. É preciso se manter antenado, se reinventar e se adaptar para encarar os novos desafios e os diferentes contextos”.

“Antes de me despedir, deixo ao sambista mais novo, o meu pedido final: Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar. O morro foi feito de samba. De Samba, pra gente sambar”. Não deixe o samba morrer – Edson Conceição e Aloísio Silva.

Jacob durante desfile (Foto: Arquivo pessoal)

Como dito no início desta matéria, não há como falar de Jacob e não falar de samba. Portelense, ele não só gosta de ouvir músicas desse gênero, mas também de tocá-las. Há anos ele tem como hobby tocar instrumentos de percussão:

“Toco tamborim, cuíca e pandeiro. Sou apaixonado por carnaval e costumo sair em várias escolas e blocos. Também participo dos Discípulos de Oswaldo e do Sons de Far”, conta. 

Quando questionado sobre tamanha paixão, ele responde:

“Ah, o samba é alegria. É a identidade do nosso povo, representa as nossas raízes, principalmente do carioca. Vários estilos surgiram e desapareceram, mas ele permanece. O samba nunca morre”.