“Querer é poder”. Quem nunca ouviu essa frase? Pode parecer até clichê, mas essa citação define muito a nossa entrevistada do Gente de Far, que começou sua carreira na unidade, em 2005, como auxiliar de serviços gerais, e, sempre que limpava algum laboratório, se imaginava trabalhando naquele local. Com muito esforço, se formou em Biologia e há 9 anos atua na Seção de Controle Microbiológico, dentro do laboratório, analisando medicamentos, matérias-primas, materiais de embalagem, água e o ambiente fabril. Conheça a história e a trajetória profissional de Maria José Alves.

Uma mistura da mãe e do pai, tanto no nome quanto na personalidade. Zezinha, Zezi, Zequinha, Zé, Zezé… cheia de apelidos, ela revela que, quando criança, não gostava do nome. “Eu não gostava do meu nome e sempre dizia que, quando eu crescesse, que tivesse 18 ou 19 anos, eu iria mudá-lo. Teve uma época que eu queria me chamar Gabriela, depois Marisa. Inclusive, na oitava série, eu assinava as provas como Marisa e os professores ficavam loucos, pois não havia ninguém com esse nome na turma. Minha mãe foi chamada na escola e eu apanhei por isso”.

Criada no bairro de Vargem Grande, onde mora até hoje, a filha da dona Nair Maria e do seu José teve uma infância simples. Ela e seus sete irmãos, sendo uma antes da caçula, cresceram em um sítio, onde seu pai mantinha uma plantação de banana para garantir o sustento da família. Com carinho, ela relembra dessa época:

“Minha mãe era do lar e meu pai, feirante. Ele plantava banana e vendia na feira da Rocinha. Éramos pobres, mas felizes. Eu era muito levada e apanhava todos os dias da minha mãe. Já fiz muita arte, como jogar pedra no telhado do vizinho e tacar fogo no galinheiro. Naquela época, não tínhamos muitos recursos e brinquedos como hoje, mas a gente se divertia muito. Eu gostava de brincar de cozinhar usando um fogão improvisado de pedra e panelas feitas com latas de sardinha e de leite. Também brincava de pique lateiro, amarelinha… Eu tive uma infância muito boa”, conta.

E se tinha algo que Zezé detestava, quando nova, era estudar. Sua mãe sempre falava da importância dos estudos, mesmo sem muita instrução, mas ela nunca deu atenção. Inclusive, ela ficou 22 anos longe da escola por opção (algo que se arrepende).  Mas sua percepção mudou quando entrou em Far, onde vislumbrou a oportunidade de retomar seus estudos e crescer na instituição, tornando-se uma referência para sua família, sendo a primeira com ensino superior.

“Imagina a honra da minha mãe se ela estivesse viva. Logo eu, a rebelde, que fugiu da escola, ser a primeira a se formar. Na verdade, a única entre os meus irmãos. Ela ficaria muito orgulhosa”, ressalta.

Mas antes de falarmos sobre essa história de superação, precisamos retomar a sua trajetória no Instituto. Emocionada, Zezé narra como chegou aqui:

“Eu entrei aqui, em 2005, para trabalhar como auxiliar de Serviços Gerais. Eu fiquei impressionada com o que vi (um lugar grande e cheio de computadores), algo que eu não estava acostumada. Eu limpava as salas, mas o que mais chamava a minha atenção eram os laboratórios. Eu me imaginava trabalhando em um deles. Com o tempo, o interesse aumentava e foi aí que decidi investir nos estudos. Eu havia terminado o segundo grau, em 2002, e, com o dinheiro que sempre sobrava do meu salário, e com o incentivo dos meus colegas de trabalho, comecei a fazer faculdade de Biologia na Souza Marques. O mais engraçado é que, quando eu era pequena, eu era fascinada por essa instituição de ensino, eu amava o uniforme e sonhava em estudar lá, mas meus pais não tinham condições. Depois de tanto tempo, eu consegui”.

Fotos do período em que trabalhava como auxiliar de Serviços Gerais

Em 2007, com o término do contrato da empresa de limpeza, Zezé saiu de Far. “Eu não queria sair daqui de jeito nenhum, mas a empresa que entrou estava oferecendo um salário muito baixo. Eu precisava manter meus estudos”, conta.

No ano de 2009, ela recebe um convite para voltar ao CTM. Desta vez, para trabalhar no restaurante, como auxiliar administrativo. “Eu nem acreditei que eu estava voltando a trabalhar em Farmanguinhos. Quando cheguei aqui, quase que eu beijei o chão! Eu agradeci tanto a Nossa Senhora da Penna (igreja que fica no alto de uma pedra e que conseguimos ver aqui do CTM). Chorei e tudo, pois tenho paixão e orgulho em trabalhar nessa instituição, de contribuir, de alguma forma, com a saúde da população”, revela.

Mas a atuação no restaurante durou apenas um ano. Em 2010, por intermédio da sua chefe imediata do restaurante, Ivana, conseguiu transferência para a Microbiologia, onde passou a atuar como auxiliar de laboratório e a colocar em prática os ensinamentos que estava obtendo na faculdade. E lá se vão 9 anos se dedicando as análises de cada etapa do processo produtivo.

No Laboratório de Microbiologia, ao lado das amigas Patrícia e Carla.

Engana-se quem pensa que Zezé sempre sonhou em ser bióloga. “Eu fiz auxiliar de Primeiros Socorros e auxiliar em Enfermagem, na Cruz Vermelha. Gostei tanto de Enfermagem, que resolvi fazer o Técnico no Curso Tavares Lira.  Queria fazer faculdade, mas era muito cara. Por indicação, optei pela Biologia, já que também me permitiria trabalhar na área de saúde e atuar em laboratório. Comecei a pesquisar e me interessei. Além disso, também contei com o incentivo de amigos de Far, como a Neuza Orlando, Jorge Alexandre (que não trabalha mais aqui), Patricia Costa e Carla Mororó. Essas últimas, me ajudaram muito. Tudo o que eu sei, eu aprendi com elas. Ao final, eu acabei me identificando com a Biologia. Entretanto, em Far, eu consigo atuar nas minhas demais áreas de conhecimento, uma vez que faço parte da Brigada de Incêndio da unidade. Uma oportunidade para ajudar e ainda fazer o que gosto”, expõe. 

Orgulhosa, Zezé mostra os resultados obtidos após uma análise de água.

Sobre a sua rotina, ela explica como funciona a atuação da Microbiologia: “Imagina que você precisa fazer um bolo. Você tem que avaliar a forma, os ingredientes… assim é a Microbiologia, para produzir um medicamento, é necessário analisar tudo que irá compô-lo, não só as matérias-primas, como também os maquinários e o local da fabricação”.

Maria José fazendo análises dentro da Sala de Testes

Quando questionada sobre o seu maior desafio profissional, ela não titubeia e responde: “A primeira vez que eu trabalhei sozinha na sala de teste, onde os produtos são avaliados, foi muito desafiador. Na ocasião, analisei o xarope Sulfato Ferroso. Fiquei receosa no início, pois são muitas informações e detalhes que precisam de atenção, mas no fundo eu sabia que eu podia, que eu estava preparada. Por isso que eu digo que todo mundo é capaz de aprender alguma coisa, mesmo com toda dificuldade. Se você quer, você pode”.

E quem disse que ela está satisfeita? Em relação ao futuro, Zezé anuncia seus planos: “Quero retomar a pós-graduação em Microbiologia e fazer faculdade de Química”.