Fruto de desenvolvimento interno, nova formulação de primaquina estará disponível no SUS

O difosfato de primaquina é um antimalárico totalmente desenvolvido por Farmanguinhos. O Instituto oferece mais uma opção de tratamento para os pacientes e reafirma seu potencial tecnológico (Foto: Viviane Oliveira)

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) acaba de obter o registro da nova formulação de Primaquina 15mg. Usado no tratamento de pacientes com malária, o medicamento é fruto de desenvolvimento totalmente realizado internamente. Com essa chancela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a nova formulação passa a integrar o portfólio exclusivo contra essa doença. Além da Primaquina, a relação de antimaláricos conta ainda com a Cloroquina e com o Artesunato+Mefloquina (ASMQ).

Desenvolvimento integrado – Um dos diferenciais de Farmanguinhos é sua capacidade de trabalhar de forma integrada, desde a concepção de um medicamento até sua disponibilização no Sistema Único de Saúde (SUS). Tal expertise faz do Instituto um laboratório ímpar no Brasil, uma vez que o produto atravessa uma série de etapas até chegar às mãos dos pacientes. O processo começa na pesquisa, passa pelo desenvolvimento tecnológico, chega à produção propriamente dita. O produto então é submetido a todos os testes de qualidade necessários para comprovar sua eficácia e segurança. Com todos os parâmetros atendidos, a formulação é disponibilizada aos pacientes. Trata-se de um trabalho criterioso que segue requisitos legais e regulatórios para atender as necessidades da população assistida na rede pública de saúde.

No caso da Primaquina, a responsável pela Divisão de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico, Juliana Johansson, explica que o produto já fez parte do portfólio institucional e, com  o avanço da ciência e o advento de novas tecnologias, foi possível atribuir melhorias ao medicamento. Com isso, além de oferecer mais qualidade aos pacientes, atendeu a uma necessidade do Ministério de ampliar a relação de medicamentos contra malária.

“A Primaquina é fruto de desenvolvimento tecnológico das equipes de Farmanguinhos, que estudaram estratégias tecnológicas para elevar a qualidade do medicamento. Essa é uma característica encantadora da ciência: as ferramentas tecnológicas evoluem e permitem que se amplie o entendimento sobre algo que, em um passado, considerava-se completamente conhecido. Isso possibilita que melhorias contínuas sejam estudadas e implementadas, sempre permitindo que se atinjam patamares superiores de qualidade. O resultado é entregar um produto que gere melhor desempenho do medicamento para o tratamento da patologia”, observa a farmacêutica.

Do Mestrado para ao SUS – O desenvolvimento tecnológico desta nova formulação é fruto do Mestrado Profissional em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento na Indústria Farmacêutica, oferecido por Farmanguinhos, que Juliana Johansson concluiu sob a orientação dos pesquisadores Helvécio Rocha e Monica Macedo Bastos. Neste sentido, ela explica os detalhes deste processo, que começou a ser desenvolvido na sala de aula, seguiu para o laboratório e, agora, está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

“O desenvolvimento desta nova formulação de primaquina foi objeto da minha dissertação de Mestrado. Fizemos um amplo estudo de pré-formulação procurando os melhores excipientes que poderiam ser utilizados para trazer as otimizações desejadas para o medicamento. Em seguida, esses excipientes foram minuciosamente estudados para assegurar que o processo produtivo tivesse um desempenho adequado. Adicionalmente, aplicamos também modernizações muito relevantes nas metodologias analíticas usadas para este medicamento”, destaca.

Segundo a especialista, desta forma, foi possível elevar os requisitos de qualidade a serem atendidos pela nova formulação. Por último, foram realizados os estudos de farmacocinética, último estágio do desenvolvimento. Então, concluímos que todas as inovações incrementais das quais lançamos mão atingiram seu objetivo principal: assegurar sua eficácia e segurança. Em paralelo a estas ações foram realizados estudos de estabilidade que confirmaram que as melhorias obtidas de imediato no produto se mantiveram, e se mantêm, ao longo de todo o seu prazo de validade”, destaca.

Juliana Johansson não só concluiu o Mestrado, como também atuou no projeto que culminou com a entrega de um produto com elevado padrão de qualidade para o Ministério da Saúde. “Todas as áreas de Farmanguinhos são também responsáveis por esta conquista, uma vez que o projeto permeou por toda a instituição em diferentes momentos”, assinala.

A semente plantada no Mestrado de Farmanguinhos germinou, cresceu e deu frutos. Atualmente, Juliana cursa o Doutorado Profissional também oferecido pela instituição, o primeiro do Brasil na Indústria Farmacêutica. A expectativa é grande para novos frutos para a ciência nacional e para a saúde pública brasileira.