No segundo episódio da série “O que eu fiz durante a Pandemia?”, Magali Portela, da Assessoria de Gestão Social, conta como foi adaptar os projetos sociais de Farmanguinhos à nova realidade e os aprendizados e resultados obtidos nesse período


Como você recebeu a notícia da pandemia e da necessidade de distanciamento social?

Sabia que a pandemia se alastrava, porém não estava preparada para tamanha letalidade e as mudanças que provocariam no Brasil e no mundo. Assim que soube que tudo pararia, veio a preocupação com os mais velhos da família e com a comunidades.

Magali durante a live “Painel Covid-19/Cidade de Deus”, realizada agosto, transmitida pelo canal de Farmanguinhos, no Youtube

Como tem sido a sua rotina de trabalho?

O primeiro mês foi de adaptação dos espaços para a nova rotina de cuidados com a casa e com a família e o trabalho. Confesso que me estressei muito e também me cobrei bastante, por ter que dar conta de tantos afazeres ao mesmo tempo e ainda apresentar uma produtividade num ambiente totalmente novo e desfavorável à concentração.

O distanciamento físico das pessoas e ter que administrar ao mesmo tempo as tarefas de casa e as do trabalho foram grandes desafios.

Mas, passado os primeiros meses, fomos criando rotinas, nos adaptando às novas plataformas de comunicação e estabelecendo metas de entregas. Meu plano de trabalho foi mensal, com entregas definidas, o que nos possibilitou ter resultados favoráveis.

Uma das famílias beneficiadas pela campanha “Se essa família fosse minha” recebendo a cesta básica, comprada a partir das contribuições dos colaboradores de Farmanguinhos

Quais foram as principais atividades que a sua área desenvolveu durante esse período?

Logo que se decretou o isolamento social, nós recebemos o pedido das comunidades de auxílio para as famílias. Com a ajuda de empresas parceiras e da Fiocruz, em abril, iniciamos uma extensa campanha de captação de recursos (de forma online) e entrega de cestas básicas e kits de higiene pessoal, denominada “Espalhe o bem”. Além de suprir as necessidades básicas, tínhamos o compromisso de repassar informações corretas sobre os métodos de prevenção e cuidados para os meios de comunicações comunitárias e redes sociais. Também participamos de pesquisas, lives e cursos sobre o tema. Outra ação foi a distribuição de máscaras de pano

Em outubro, dando continuidade a esse trabalho de apoio às comunidades, nos reinventamos e demos uma nova abordagem para a tradicional campanha de Natal de Farmanguinhos. Ao invés dos colaboradores apadrinharem crianças e idosos e os presentearem com roupas e outros itens, ampliamos o projeto e adotamos dez famílias que estão passando por muitas dificuldades para se sustentarem devido à falta de emprego e demais impactos da pandemia. Assim surgiu o “Se essa família fosse minha”, ação que ajudou as pessoas beneficiadas com cestas básicas compostas por alimentos, materiais de higiene e limpeza, durante um período de três meses, além de produtos natalinos e brinquedos no mês de dezembro.

Uma das famílias beneficiadas pela campanha “Se essa família fosse minha” recebendo a cesta básica, comprada a partir das contribuições dos colaboradores de Farmanguinhos

Como vocês  fizeram para desenvolver os projetos diante dessa nova realidade?


As plataformas digitais, disponibilizadas para as reuniões, nos manteve próximos dos nossos parceiros. Planejar, captar recursos e disseminar informações foram atividades possíveis de serem realizadas de forma remota. As contribuições foram realizadas através de depósitos bancários. Entretanto, há tarefas que precisam ser presenciais, como a logística de compra e de entregas das doações.

Para o trabalho que realizamos é fundamental estar no território, ouvindo e observando. Na verdade, eu diria que isso é imprescindível para se manter um relacionamento. Trabalhamos com o público que vive em vulnerabilidade social, que não tem acesso fácil à internet, computadores, redes sociais… tudo é feito presencialmente. Então, quando necessárias, eram realizadas seguindo todos os protocolos de prevenção, como uso de máscara e do álcool em gel e o distanciamento seguro.

Magali durante a entrega das cestas de Natal da campanha Se essa família fosse minha

Qual foi o  total de pessoas beneficiadas pelos projetos?

3.965 famílias foram favorecidas diretamente com cestas básicas, kits de higiene e limpeza e máscaras de pano.

Que lições você tem aprendido com a pandemia?

Que devemos aceitar a brevidade da vida, assim como devemos ser gratos por tudo e dar importância ao afeto, ao abraço e a estar presente (ao lado) das pessoas que amamos. Com isso, ganhei resiliência e paciência para lidar com as situações.

A alegria de uma das crianças ao receber o presente da campanha Natal Solidário

Sobre Magali Portela – É assistente social e especialista em promoção da saúde e desenvolvimento social e em gestão de projetos para o terceiro setor. Com 26 anos de experiência em projetos e movimentos sociais, ela já atuou pela Prefeitura do Rio de Janeiro (Programa Favela Bairro), pelo Estado (Coordenação de Trabalho e Renda do Centro de Acolhimento de Benfica) e pela Secretaria de Assistência Social do Município de Duque de Caxias (Coordenação de projetos do município). Magali está há 14 anos em Farmanguinhos, atuando como Supervisora da Assessoria de Gestão Social.

Sua equipe é composta por mais dois colaboradores: o servidor Jacob Portela, sociólogo e cientista político, e Fátima Aparecida Loroza, física e especialista em gestão pública e em promoção da saúde e desenvolvimento local. Todos com experiência em trabalhos sociais e culturais, bem como vocacionados para atuarem em territórios vulnerabilizados.