Os projetos têm como objetivos redução de preços de medicamentos, uso de radiofármacos para o tratamento de câncer e estruturação de plataforma de bioensaios

Por: Alexandre Matos e Viviane Oliveira

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) foi contemplado com recursos do Programa Inova Gestão Fiocruz em dois projetos com submissão exclusiva e um desenvolvido em parceria com o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz). Elaborados por pesquisadores do Núcleo de Inovação Tecnológica da unidade, os estudos abrangem as áreas de oncologia, patentes de medicamentos e plataforma de bioensaios.

A pesquisadora Wanise Barroso coordena o projeto “Ações estratégicas relacionadas a patentes visando a redução de preço de Medicamentos”, que tem como objetivo apresentar subsídios ao exame de pedidos de patente de medicamentos junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Segundo a especialista, esses produtos são definidos pelo Programa de Medicamentos Excepcionais de interesse do Ministério da Saúde, razão pela qual o projeto se reveste de grande relevância para a saúde pública brasileira.

“O estudo prospectivo do status patentário visa a redução dos custos na compra, a ampliação do acesso à população, a produção de versões genéricas de medicamentos, assim, possibilitando a produção local de produtos de alto valor agregado e grande impacto sanitário e social, como medicamentos usados no tratamento de hepatites virais ou Terapia Gênica para tratamento de doenças raras”, explica a pesquisadora.

Ainda de acordo com Wanise Barroso, o estudo favorecerá também o fortalecimento dos laboratórios públicos no desenvolvimento da capacidade produtiva e tecnológica das indústrias farmoquímica e farmacêutica nacionais. Graças a esse trabalho foi possível evitar a concessão de patente dos antirretrovirais tenofovir e lopinavir+ritonavir. Já o antiviral sofosbuvir, utilizado para tratamento de Hepatite C, obteve patente, mas o escopo de proteção foi reduzido.

Além dos parceiros internos, o projeto contará ainda com a parceria de profissionais do Instituto de Medicina Social, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (Centre National de la Recherche Scientifique – CNRS).

Radiofármacos para tratamento de câncer – Outro projeto contemplado foi o “Foresight estratégico como subsídio à colaboração e empreendedorismo na Fiocruz pela abordagem de matriz cruzada das tendências científicas, tecnológicas e mercadológicas em oncológicos como modelo para outras aplicações”. Coordenado pelo pesquisador Jorge Magalhães, que atua no Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), o estudo tem como objetivo apresentar dados estratégicos sobre oncologia a partir de matriz cruzada, tendo como ponto de partida os radiofármacos para tratamento e diagnóstico de câncer.

A coordenação do projeto é dividida entre Jorge Magalhães e a pesquisadora Carla Silveira, e envolve ainda pesquisadores da Universidade NOVA de Lisboa, do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Magalhães explica como serão executadas algumas das principais etapas do projeto, tais como identificação do conhecimento científico, tecnológico e mercadológico para empreendedorismo na Radiofarmácia no Brasil (diagnóstico, tratamento e prevenção); geração do cenário prospectivo e mapa do conhecimento; geração de matriz cruzada do conhecimento e prospecção da correlação do modelo para empreender em outras doenças, tais como HIV/Aids, hepatites, por exemplo, a fim de permitir o uso de repositórios. Faz também parte do escopo correlacionar e promover a informação essencial para subsidiar os tomadores de decisões da Fiocruz e do Sistema Único de Saúde (SUS) no empreendedorismo e nas decisões estratégicas.

“O público-alvo do projeto final são usuários do SUS, a fim de identificar os atores que promoveram ações sinérgicas nos últimos 10 anos e promover a prospecção tecnológica para o próximo decênio. A maioria dos agentes anticancerígenos atuais não consegue diferenciar células cancerosas e normais, levando a uma toxicidade sistêmica e efeitos adversos, limitando grandemente a dose máxima permitida do fármaco. Além disso, a rápida eliminação e distribuição generalizada nos órgãos e tecidos-alvo requer administração de fármaco em grandes quantidades, o que onera imensamente o SUS e, muitas das vezes, com uma toxicidade indesejável. Portanto, dentre várias possibilidades finalísticas, o Foresigth em Radiofarmácia beneficiará a Fiocruz pelos protótipos obtidos e os resultados serão compartilhados com os gestores do SUS e as indústrias”, ressalta.

Plataforma de Bioensaios ICC- Farmanguinhos – Outro projeto contemplado pelo edital Inova Gestão envolve o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz) e Farmanguinhos. DenominadoInovação e integração das plataformas de bioensaios RPT11J e RPT11M”, o estudo foi inscrito pelo ICC (Fiocruz Paraná) mas é coordenado pelas duas unidades.

Coordenador da plataforma de Farmanguinhos, o pesquisador André Sampaio explica que ambos os institutos vêm trabalhando conjuntamente para a integração dos serviços, uma vez que são complementares. “Este trabalho tomou corpo no INOVA Labs onde as duas equipes trabalharam juntas amadurecendo o projeto que já frutificou, pois fomos contemplados também no INOVA Equipamentos (projeto coordenado por mim) e no INOVA Gestão, coordenado pela Alessandra Melo de Aguiar, do ICC”, frisa. O projeto tem como objetivo integrar os serviços das respectivas plataformas, algo inovador na rede de Plataformas Fiocruz, e iniciar o processo de implementação da ISO 17025, certificado de acreditação de ensaios.

Neste sentido, Sampaio destaca os benefícios para a instituição a partir dessa proposta de trabalho integrado entre as unidades. “A plataforma RTP11J (do ICC/Fiocruz) oferta serviços de avaliação da toxicidade de substâncias in vitro enquanto nós, na RTP11M, prestamos serviço de atividade antitumoral. A avaliação da toxicidade e atividade biológica em um mesmo pacote de serviços traz agilidade para os projetos de desenvolvimento de novos fármacos, uma vez que os candidatos com alta toxicidade são descartados logo no início do projeto. Somado a isso temos a estratégia da acreditação gradativa dos ensaios pela ISO 17025, conforme vamos melhorando a gestão da qualidade e vencendo os desafios teremos impacto direto nos serviços ofertados e na captação de clientes e recursos”, observa o pesquisador.

Ainda de acordo com o André Sampaio, a integração de plataformas tecnológicas tem o potencial de alterar a forma de funcionamento da rede de plataformas e dos serviços ofertados.

“Com este projeto estamos captando recursos e sendo apoiados pela Rede, o que fortalece nosso laboratório e permite acesso a novos recursos. O Projeto do INOVA Gestão não abrange apenas as equipes dos Laboratórios, mas abraçamos ainda a Qualidade do ICC, Escritório de Projetos e NIT de Farmanguinhos que, com certeza, traduzirá em muitos frutos pela aproximação das unidades”, conclui.

Devido ao trabalho no INOVA Labs e projetos aprovados (equipamentos e gestão), as plataformas RTP11J e RTP11M foram escolhidas pela Coordenação das Plataformas Tecnológicas da Fiocruz como as plataformas piloto para a implementação do novo sistema para gestão da qualidade, juntamente com as centrais analíticas de diagnóstico do Rio de Janeiro e Ceará.