Para marcar o Dia Mundial de combate à Tuberculose, o Instituto divulga suas iniciativas para o enfrentamento da doença

A tuberculose é um grave problema de saúde pública mundial. Embora seja passível de ser prevenida, tratada e mesmo curada, milhares de pessoas ainda adoecem e morrem devido à doença e suas complicações, principalmente pelo abandono do tratamento. Nesse cenário, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) vem desenvolvendo diversas ações que visam a combater a enfermidade, dentre as quais, pesquisas de novos fármacos, desenvolvimento de novas formulações e produção de medicamentos a serem distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em 2020, Farmanguinhos enviou mais de 16 milhões de unidades farmacêuticas de diferentes tuberculostáticos ao Ministério da Saúde. Os medicamentos foram distribuídos a todos os estados, de acordo com a necessidade de cada unidade federativa, a fim de garantir o acesso à população ao tratamento. Neste ano, a previsão é encaminhar cerca de 31 milhões de unidades no total.

O portfólio de tuberculostáticos é composto por quatro medicamentos: etionamida, isoniazida, isoniazida + rifampicina e o 4×1, chamado assim por reunir em um único comprimido quatro princípios ativos: isoniazida, rifampicina, etambutol, pirazinamida. Esta Dose Fixa Combinada (DFC) facilita a rotina do paciente, que substitui os quatro comprimidos diferentes por somente um, motivando-o a seguir com o tratamento até a cura da doença. O medicamento é fruto de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre Farmanguinhos e o laboratório indiano Lupin.

4×1: o medicamento reúne em um único comprimido quatro princípios ativos (Foto Thelma Vidales)

Pesquisas – Além dos medicamentos disponíveis, o Instituto desenvolve pesquisas a fim de chegar a novas formulações para a tuberculose. O grupo de Síntese de Substâncias no Combate à Doenças Tropicais (SSCDT), por exemplo, prioriza estudos científicos e tecnológicos para combate à enfermidade. Atualmente, a equipe tem trabalhado no reposicionamento do fármaco mefloquina e derivados sintetizados. Os resultados têm sido promissores, apresentando uma potente atividade antituberculose, inclusive em bactérias multirresistentes com sinergismo diante dos diferentes fármacos utilizados no tratamento dessa doença.

“Essa invenção foi patenteada e a próxima etapa é testar clinicamente esse fármaco. Outra invenção que tem apresentado bons resultados é a utilização do produto natural cânfora como matéria-prima na síntese e avaliação biológica de novas substâncias no combate à doença”, revela Marcus Nora, coordenador da equipe de pesquisa.​

Já o Laboratório de Síntese de Fármacos (LASFAR) tem atuado em duas linhas de pesquisa. A primeira delas compreende o processo de otimização da síntese da isoniazida, que é um fármaco de primeira escolha para o tratamento da forma ativa da tuberculose, tanto na fase intensiva quanto na fase de manutenção. Além disso, a isoniazida também é usada no tratamento da tuberculose latente e, portanto, é um fármaco essencial para o SUS. Esse projeto, que é realizado em parceria com o SENAI, tem objetivo de aumentar a eficiência e diminuir os custos de produção e já apresenta resultados preliminares positivos.  Outra linha de pesquisa está ligada ao desenvolvimento de uma nova geração de derivados da isoniazida, que visa a contornar alguns dos principais limitantes desse fármaco.

“Essas novas substâncias têm como objetivo diminuir a metabolização que a isoniazida sofre e que afeta a sua eficácia em alguns indivíduos. Além disso, esses novos derivados apresentam maior potência contra a bactéria que causa a tuberculose e possuem menor toxicidade celular, sendo ótimo potencial em modelo animal experimental. Por esse motivo, nós fizemos diversos pedidos de patente dessas novas substâncias, sendo que dois já foram concedidos: o americano e o indiano. Esse projeto foi considerado prioritário pela unidade e está recebendo investimentos para a realização de importantes etapas de desenvolvimento pré-clínico”, destaca o pesquisador Frederico Castelo Branco.

Fruto de um redesenvolvimento interno, o medicamento une Isoniazida e Rifampicina em um único comprimido. (Foto: Tatiane Sandes)

Desenvolvimento – Recentemente, o medicamento isoniazida + rifampicina passou por um projeto de redesenvolvimento, liderado pela Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico de Farmanguinhos, para chegar a esta nova apresentação, com os dois princípios ativos em um único comprimido revestido. Além disso, a unidade também obteve êxito em seu pós-registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), permitindo a utilização do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) rifampicina do fabricante Sanofi para a produção do medicamento. Tal resultado viabiliza a produção em Farmanguinhos e a distribuição adequada para o Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) do Ministério da Saúde.

Deste modo, seja por meio da pesquisa de novas formulações terapêuticas ou da produção de medicamentos essenciais para o tratamento dessa doença negligenciada, Farmanguinhos tem cumprido seu papel estratégico para o país, destacando-se como o maior laboratório público nacional e contribuindo ao longo dos anos para a saúde pública brasileira.