Diretor Jorge Mendonça e a Coordenadora de Desenvolvimento Tecnológico, Alessandra Esteves, participaram da mesa Desenvolvimento e produção de medicamentos, vacinas e diagnósticos

Agência Fiocruz de Notícias (AFN)

Evento debateu o conteúdo do Memorando de Entendimento para uma aliança estratégica entre a DNDi e a Fundação(foto: Fiocruz)

Preparando-se para assumir a diretoria executiva da iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi na sigla em inglês) no próximo mês, Luis Pizarro esteve na Fiocruz na última segunda-feira (8/8) para debater o conteúdo do Memorando de Entendimento (MoU) para uma aliança estratégica entre a organização e a Fundação. Ao longo do dia, parceria em questões como ciência aberta e compartilhamento de dados; desenvolvimento de vacinas e diagnósticos; saúde global; e enfermidades como a dengue foram discutidas em diferentes unidades da Fiocruz. Em todas as reuniões, participantes de lado a lado ressaltaram a importância do enfoque nas populações negligenciadas e no acesso a medicamentos.

A DNDi é uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento, que busca oferecer novos tratamentos para pacientes negligenciados. Desde sua criação, em 2003, ela desenvolveu 12 tratamentos para seis doenças que podem levar à morte. Como um dos membros fundadores, a Fiocruz tem assento no Conselho da organização, onde é representada por Jorge Bermudez, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e que participou do encontro.

As reuniões de trabalho desta segunda-feira foram um desdobramento do encontro em março, quando foi assinado um MoU para pesquisa e tratamento da dengue e anunciada a intenção de formar uma parceria estratégica. Primeira reunião formal a contar com a presença de Pizarro, ela foi marcada por discussões como a continuidade do projeto da dengue, avanços no projeto sobre a hepatite C e colaborações em Chagas e leishmaniose. 

Equidade no acesso a medicamentos

Na abertura do evento, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, destacou que um dos objetivos da reunião era pensar o papel dessa aliança estratégica em relação aos países da América Latina, e também na Saúde Global. “Temos aprofundado a discussão sobre como fortalecer o campo da inovação, relacionando-o à equidade no acesso, e associando os temas de uso e desenvolvimento de novas tecnologias para as doenças negligenciadas a esta agenda. Nossa abordagem é sempre pensar a partir das populações negligenciadas”, disse Nísia na abertura do evento, no auditório do Centro de Documentação e História da Saúde (CDHS). “Podemos dizer que, na prática, essa aliança estratégica já existe. Mas precisa avançar para um novo patamar, pensando a relação com a inovação. E discutir também pontos que estão fora da agenda de prioridade da grande indústria farmacêutica, da mesma forma que novos usos de medicamentos [já existentes].” 

Chileno e médico de saúde pública, Pizarro destacou as conquistas nesses 20 anos da DNDi, com a produção de medicamentos para doenças que até aquele momento não tinham remédio indicado. “Mas fica uma pergunta: como fazer com que este modelo seja sustentável e funcione fora da ajuda internacional, da filantropia?”, questionou. “É preciso uma estrutura de longo prazo que a mantenha. Esse é um desafio que cabe a todos”. Sobre a aliança com a Fiocruz, Pizarro manifestou a intenção de que também seja um modelo sustentável. “Se queremos que um modelo seja sustentável temos que reforçar as alianças, as associações, as parcerias para avançar. E estamos fazendo algo concreto com esse documento de aliança estratégica”, acrescentou. 

A delegação pode ainda fazer uma breve visita ao Castelo Mourisco (foto: Fiocruz)

Em nível global, o novo diretor da DNDi destacou o projeto sobre a dengue como um bom exemplo da colaboração Sul-Sul, além de ressaltar a importância de colaborações triangulares. Ele chegou à Fiocruz acompanhado por uma delegação composta por Eric Stobbaerts, diretor de Desenvolvimento Internacional; Sergio Sosa-Estani, diretor executivo para América Latina; e Isabela Ribeiro, diretora do Cluster de Doenças Virais. 

Sosa-Estani mencionou a possibilidade de desenvolver novos projetos, em que criação, desenvolvimento e financiamento sejam compartilhados. Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger acredita que a aliança estratégica dará uma nova dimensão aos projetos e permitirá potencializar as ações das duas instituições. Um ponto que poderia entrar na aliança estratégica é a produção de kits diagnóstico para doenças negligenciadas, sugeriu. A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação, Cristiani Vieira Machado, levantou a possibilidade da criação com a DNDi de cursos bilingues e trilingues, como a Fiocruz já faz, além de repositórios, citando o exemplo da Arca.

A primeira parte contou ainda com as participações de Rodrigo Correa, vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas; Felix Rosenberg, diretor do Palácio Itaboraí-Petrópolis; Miryam Minayo, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz); Valber Frutuoso, assessor do Gabinete da Presidência; Jorge Costa, assessor da VPPIS; e Carlos Morel, diretor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), que esteve na reunião em Genebra em 2003 quando foi assinada a criação da DNDi.

Mesas de trabalho

A abertura foi seguida por três mesas de trabalho. Em Pesquisa e desenvolvimento em Dengue e Chagas participaram ainda Valdilea Veloso, diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), acompanhada por Tiago Nery, assessor para Assuntos Internacionais, e os pesquisadores Andrea Silvestre e Alejandro Hasslocher Moreno. O INI/Fiocruz desenvolve o projeto CUIDAChagas, sobre transmissão congênita, que tem apoio da Unitaid e para o qual a DNDi colabora com aconselhamento científico e técnico. O projeto é desenvolvido em Colômbia, Paraguai e Bolívia, além do Brasil. 

Sobre a Aliança Estratégica, a Fiocruz está revisando um primeiro rascunho, que deverá ser enviado à DNDi nas próximas semanas. Entre os projetos que podem ficar sob o guarda-chuva desta aliança estão os relacionados à doença de Chagas, leishmaniose e hepatite C, e também áreas como ciência aberta e o Biobanco Covid-19. 

Rodrigo Correa explicou que, embora o Biobanco Covid-19 tenha sido criado com a intenção inicial de armazenar amostras de Sars-CoV-2 e suas variantes, poderá trabalhar no futuro com outras doenças. Sosa-Estani mostrou interesse em discutir um projeto baseado em biorepositórios, um primeiro passo para desenvolver biobancos. Enquanto Morel destacou a necessidade do uso da metagenômica para que doenças não sejam confundidas. Alejandro Hasslocher Moreno, por sua vez, lembrou da necessidade de aumentar a realização de testes para a doença de Chagas, e assim os pacientes terem acesso ao tratamento. “Não ocorrem mais tratamentos porque não há diagnósticos”, pontuou.

Isabela Ribeiro destacou o projeto que busca tratamento para a dengue, no qual países onde a doença é endêmica assumem a liderança das ações. A DNDi já estabeleceu parcerias não só com Brasil, mas também com Tailândia, Malásia e Índia. Já Thiago Moreno, pesquisador do CDTS, contou um pouco das pesquisas com medicamentos contra a doença.

Saúde global

Mesa no Cris/Fiocruz debateu desenvolvimento e produção de medicamentos, vacinas e diagnósticos (foto: Fiocruz)

A segunda mesa, sobre Desenvolvimento e produção de medicamentos, vacinas e diagnósticos, ocorreu no Cris/Fiocruz, onde se juntaram Jorge Mendonça, diretor de Farmanguinhos/Fiocruz, que comentou sobre o estágio das pesquisas com novos medicamentos, e Sotiris Missailidis, vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico de Bio-Manguinhos/Fiocruz, que falou sobre a Fiocruz como hub da Organização Mundial da Saúde (OMS) para vacina de mRNA contra a Covid-19 e o Complexo Industrial de Santa Cruz. Nessa mesa foram ainda discutidos os estudos envolvendo o Ravidasvir, que está sendo pesquisado para o tratamento de hepatite C.

Já a mesa sobre Saúde Pública e Saúde Global ocorreu na Ensp/Fiocruz, com as participações de Marcos Menezes, diretor da unidade, e Marismary Horscht de Seta, vice-diretora da Escola de Governo em Saúde. Na reunião, a delegação da DNDi pôde saber um pouco mais sobre o funcionamento da escola, cuja educação à distância atende também a alunos de outros países, como Moçambique e São Tomé, além de já ter atendido a mais de 80 estudantes; e o papel da Fundação nas redes regionais de saúde. Foram apresentados ainda os trabalhos da Fiocruz relacionados à saúde global por meio do Cris/Fiocruz que, além dos seminários avançados quinzenais com especialistas de todo o mundo, também produz informes e e-books sobre o assunto. 

A delegação pode ainda fazer uma breve visita ao Castelo Mourisco. As reuniões servirão de base para o rascunho que está sendo elaborado e que será mais tarde enviado para a consideração da DNDi. O documento final será a base para o MoU para Aliança Estratégica Fiocruz/DNDI.