Além de fornecer nove antirretrovirais, o Instituto desenvolve novas formulações e firma cooperações para absorção de tecnologias inovadoras para tratamento e prevenção da doença

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) reitera a cada ano seu compromisso com pessoas que vivem com HIV/aids. A unidade produz nove antirretrovirais da terapia anti-HIV, desenvolve novas formulações e firma cooperações para absorção de tecnologias inovadoras para o tratamento da doença. Neste Dia Mundial de Luta Contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro, a instituição reafirma seu protagonismo no fornecimento dessa categoria de medicamentos ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Protagonismo – Farmanguinhos é pioneiro na produção de antirretrovirais, medicamentos que agem na inibição e multiplicação do HIV no organismo, evitando assim o enfraquecimento do sistema imunológico. Para se ter uma ideia da importância da unidade no histórico da doença, em 1999, o Instituto produziu o primeiro antirretroviral, a zidovudina (AZT). Outro grande marco para o país foi a produção e distribuição do efavirenz, fruto do primeiro caso de licenciamento compulsório realizado no Brasil. Tal feito garantiu a soberania nacional quanto a este medicamento, até então importado. Esse protagonismo permitiu ao Brasil se tornar referência mundial no acesso universal a antirretrovirais.

Com parque fabril moderno e corpo técnico altamente qualificado, Farmanguinhos é o principal provedor destes medicamentos para o Ministério da Saúde. Ao todo, o portfólio é composto por nove produtos: atazanavir, efavirenz, lamivudina, zidovudina, nevirapina, lamivudina + zidovudina, fumarato de tenofovir desoproxila + lamivudina, dolutegravir sódico, entricitabina + fumarato de tenofovir desoproxila.

Além de garantir o abastecimento do SUS, a unidade desenvolve novas formulações, e atua em projetos de cooperação a fim de absorver tecnologias inovadoras. Desta forma, é possível garantir tratamentos mais modernos e melhorar a qualidade de vida da população assistida.

O Brasil é referência internacional no tratamento de HIV/aids e Farmanguinhos é fundamental na produção e distribuição de medicamentos para o SUS – Jorge Mendonça, diretor de Farmanguinhos.

O diretor Jorge Mendonça destaca a importância da atuação da unidade na condução da produção pública de antirretrovirais. “O Brasil é referência internacional no tratamento de HIV/aids e Farmanguinhos é fundamental na produção e distribuição de medicamentos para o SUS. Ao longo dos anos, realizamos parcerias e internalizamos muitos destes produtos, ampliando o acesso, garantindo melhores expectativas de vida e o controle da doença. Desenvolvemos pesquisas buscando resposta terapêutica contra a doença e fornecemos também um dos medicamentos usados na prevenção à infecção por HIV”, explica.

Trata-se do entricitabina + fumarato de tenofovir desoproxila, usado na Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP). A instituição é responsável pelo fornecimento deste medicamento, que combina dois princípios ativos em um único comprimido. Este esquema de prevenção à infecção por HIV consiste no uso diário do comprimido, que funciona como uma espécie de barreira química contra o vírus. Vale lembrar que o antirretroviral não substitui o uso de preservativos.

Absorção de novas tecnologias – Com o objetivo de incorporar novos produtos ao portfólio institucional, Farmanguinhos firma parcerias com instituições públicas e privadas, o que garante autonomia de fabricação e consequente diminuição dos custos para o Ministério da Saúde. Atualmente, o Instituto participa de quatro parcerias.

Uma delas visa à absorção tecnológica do dolutegravir 50 mg, que beneficiou pacientes que ainda não haviam iniciado o tratamento com outros antirretrovirais ou apresentaram resistência aos medicamentos anteriores.  O produto é fruto da Aliança Estratégica com as farmacêuticas ViiV Healthcare e GSK, que prevê ainda o desenvolvimento conjunto de dolutegravir + lamivudina, antirretroviral composto em dose fixa combinada que confere mais conforto aos pacientes.

Já o entricitabina + fumarato de tenofovir desoproxila, usado na PrEP, é outro fruto de parceria que reúne dois princípios ativos em um único comprimido. A previsão é de que Farmanguinhos conclua a absorção tecnológica em 2024. Além desses, o atazanavir também resulta de uma parceria, cujo processo foi totalmente concluído e o medicamento é 100% produzido nas instalações da unidade.

Desenvolvimento interno – Com laboratórios modernos e profissionais qualificados, o Instituto usa todo seu potencial técnico-científico para o desenvolvimento de estudos internamente. Um dos projetos é a nova formulação de lamivudina na concentração 300 mg. A previsão é de que o medicamento entre na etapa industrial no primeiro semestre do ano que vem.

A responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Tecnológico, Juliana Johansson, destaca que, além dos projetos de novas formulações, os laboratórios também trabalham no desenvolvimento de melhorias contínuas de medicamentos. “Um exemplo é a atuação junto ao produto lamivudina + fumarato de tenofovir desoproxila, que tem como objetivo triplicar a produtividade, reduzindo custos e tempo de produção. A instituição também realiza o estudo para a inclusão de fabricante de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) do antirretroviral nevirapina, garantindo assim a qualidade do produto a ser utilizado na fabricação do medicamento”, destaca a pesquisadora.

Síntese de novas moléculas – Desde 2001, o Laboratório de Síntese de Fármacos da unidade possui uma linha de pesquisa exclusivamente de novos desenvolvimentos para o combate do HIV, o que resultou em dezenas de artigos e patentes na área nesses 21 anos. O laboratório realizou diversas sínteses totais de antirretrovirais para o Ministério da Saúde, e identificou inúmeros compostos com atividades biológicas promissoras. A líder do laboratório, Mônica Macedo Bastos, explica que as pesquisas incluem modificações estruturais em fármacos já utilizados na terapia antirretroviral com o objetivo de obter análogos mais ativos, com menos eventos adversos e que sejam capazes de tratar as cepas virais resistentes.

“Nos últimos anos, o laboratório de Síntese tem trabalhado no desenvolvimento de produtos que sejam capazes de atuar em coinfecções como: HIV-TB (tuberculose) e HIV-criptococose, bem como na criação de modelos celulares que possam testar as atividades anti-HIV, anti-MTb e antifúngica de compostos, simultaneamente, tendo assim maior eficácia e economia em ensaios de triagem. Neste contexto, já foram obtidas substâncias com atividade dual HIV-TB, que atualmente encontram-se em avaliação pré-clínica. Com relação aos modelos celulares de coinfecção HIV-criptococose e HIV-TB, o primeiro será desenvolvido em colaboração com pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e o segundo foi finalizado no The Johns Hopkins Medical School, dos Estados Unidos, onde foram estabelecidas as condições ideais de infecção pelo MTb, bactéria causadora da tuberculose, e de coinfecção pelos dois patógenos”, explica Mônica Bastos. 

Uso de plantas medicinais – O Laboratório de Tecnologia para a Biodiversidade em Saúde (TecBio), da Vice-diretoria de Educação, Pesquisa e Inovação (VDEPI), investiga o comportamento do látex liofilizado de uma planta medicinal muito usada popularmente para tratar vários tipos de doenças, algumas graves ou crônicas, dentre as quais a aids. Coordenada pelo pesquisador Antonio Carlos Siani, com colaboração do grupo de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, liderado pelo pesquisador Amílcar Tanuri, a pesquisa avalia os componentes ativos contidos em um látex medicinal como base conceitual para desenvolver um fitoterápico.

De acordo com Siani, essas moléculas do látex medicinal atuam nas células que estão em estado latente, mais especificamente dentro do núcleo celular. Tal mecanismo é denominado shock and kill (dar um choque e eliminar, na tradução livre do inglês). As substâncias que possuem essa propriedade são chamadas de Agentes Reversores de Latência.

Antônio Carlos Siani alerta que, uma vez desenvolvida e aprovada, a terapia a ser estabelecida terá caráter complementar. “O uso não prescindirá do tratamento com antirretrovirais utilizados. Um medicamento que livre as células do vírus latente pode significar a cura da aids ou, de maneira menos impactante, estabelecer posologias mais amenas para os pacientes atuais”, pondera.

Com a colaboração do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz), Farmanguinhos já testou um lote quimicamente caracterizado em primatas não humanos (macaco-rhesus), o que resultou em boa tolerância para a ingestão de três doses distintas de um preparado do látex, com base nas mesmas doses preconizadas pelo uso popular. Ainda de acordo com o pesquisador, o projeto também avançou no planejamento e na contratação de laboratório credenciado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar os testes de toxicologia aguda e subcrônica em roedores, conforme as exigências regulatórias. “Em paralelo, têm sido realizados testes de citotoxicidade com o Insumo Farmacêutico Ativo proposto, e a farmacocinética de uma das moléculas mais abundantes, isolada do látex. A conclusão dessas etapas de modo positivo permitirá planejar os futuros estudos clínicos”, assinala. 

Equidade já – Segundo dados da Unaids, mais de 38 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com o vírus HIV no ano passado. De acordo com a entidade, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), desde a descoberta da doença, em 1981, mais de 40 milhões de pacientes morreram por alguma enfermidade relacionada à aids.

A Unaids atua em parcerias com os países na busca de soluções para o combate à aids. Tem como objetivo prevenir o avanço do HIV, prestar tratamento e assistência aos afetados pela doença e reduzir o impacto socioeconômico da epidemia. Neste ano, o tema de campanha é “Equidade Já” a fim de minimizar as desigualdades decorrentes deste grave problema de saúde pública global. Clique aqui e saiba mais sobre as ações.

Neste cenário desafiador, Farmanguinhos se apresenta como um parceiro estratégico do Brasil. A ampliação do portfólio, por meio de estudos realizados internamente e por absorção de tecnologias inovadoras, reitera o compromisso institucional em defesa da vida, e contribui para que o país continue como uma referência no tratamento da doença, concedendo acesso universal dos pacientes aos antirretrovirais.