Os mantimentos foram doados pelos trabalhadores da unidade a pacientes do INI/Fiocruz que vivem com HIV/Aids

Equipe de Farmanguinhos com representantes e pacientes da Associação Lutando para viver-amigos do INI (Foto: Antônio Fuchs)

 

Na última sexta (30/11) foi realizado mais um Café Positivo, evento promovido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) em parceria com a Associação Lutando para Viver-Amigos do INI para celebrar o Dia Mundial de Luta Contra a Aids (1º/12). Todos os anos Farmanguinhos participa com a entrega dos alimentos doados pelos trabalhadores da unidade. Nesta edição, foram arrecadados mais de 1200 kg de mantimentos.

Os alimentos foram doados pelos trabalhadores durante campanhas internas, como a Sipat, por exemplo. Neste ano, a unidade foi representada pelos servidores Denise Barone (Gerência de Segurança, Meio Ambiente e Sustentabilidade), Gisele Monteiro (Departamento de Saúde), Jacob Portela (Gestão Social) e Rodolfo Carvalho (Comunicação e Eventos Corporativos).

Sônia Fonseca frisou que as doações são fundamentais para as cerca de 250 pessoas que dependem dos mantimentos (Foto: Alexandre Matos)

Questão de solidariedade – Segundo a coordenadora da Associação Lutando para Viver-Amigos do INI, Sônia Fonseca, a associação atende mensalmente cerca de 250 pessoas, entre pacientes do INI e seus familiares, que vivem em condições precárias: falta de dinheiro e de alimentos.  A situação foi agravada pela crise que afeta o país. Por isso, a doação de cada quilo de alimento faz a diferença na vida dessas pessoas.

“A arrecadação acontece ‘boca a boca’ ou em campanhas de mobilização, como a de Farmanguinhos, Quinino e do próprio INI. Nestes casos, conseguimos uns 200 a 300 kg com os quais montamos de 30 a 40 cestas básicas que acabam muito rapidamente. Se as pessoas não doarem, não conseguimos dar continuidade ao nosso trabalho”, explica Sônia, que está na associação desde a sua fundação em 14 de janeiro de 1998.

Ninguém quer empregar pessoas que vivem com o vírus HIV. Existe um preconceito enorme contra a gente – paciente que vive com HIV/Aids

 

De acordo com a ativista, a entidade foi criada por médicos, enfermeiros e profissionais do INI para ajudar os pacientes que, naquela época, passavam muitas necessidades. Hoje, 20 anos depois, o cenário não é muito diferente. “Este ano está sendo muito difícil e, em função da crise, o INSS deu alta a muitas pessoas que não têm a menor condição de trabalhar, algumas já estavam até aposentadas. Então, essas pessoas estão no fundo do poço mesmo, no sufoco, porque são doentes e não conseguem emprego”, frisa Sônia. Clique aqui e saiba como doar. Você pode também entrar em contato por telefone 3865-9530 ou por e-mail: lutandoparaviver@ipec.fiocruz.br

 

Beatriz Grinsztejn ressaltou que é preciso união para que os direitos relacionados à política para HIV/Aids sejam mantidos (Foto: Antônio Fuchs)

R (60 anos de idade) é uma dessas pessoas. Ele e seu companheiro W (41) vivem com o vírus HIV e fazem uso de Lamivudina+Zidovudina, antirretroviral produzido por Farmanguinhos. R tem um problema físico que atrapalha sua locomoção. Já usou cadeira de rodas e hoje desloca-se com muletas.  A única renda da família vinha do INSS, mas, neste ano, ele teve alta. “Gostaríamos muito de trabalhar, mas não temos condições. Mesmo se tivéssemos, ninguém quer empregar pessoas que vivem com o vírus HIV. Existe um preconceito enorme contra a gente. Estamos vivendo da ajuda de vizinhos e outras pessoas”, salienta o paciente.

 

Prevenção e tratamento – Durante o encontro, a pesquisadora Beatriz Grinsztejn, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids do INI ressaltou que a adesão ao tratamento é fundamental para diminuir o número de casos. Por isso é importante fazer o teste. “Temos tratamento eficiente. Pessoas que se tratam e têm carga viral indetectável há mais de seis meses não transmitem o HIV por sexo. Por isso aderir ao tratamento é fundamental”, destacou a pesquisadora.

 

Pessoas que se tratam e têm carga viral indetectável há mais de seis meses não transmitem o HIV por sexo – Beatriz Grinsztejn

 

Lorani Sabatelly disse não sentir efeitos adversos com o uso do entricitabina+tenofovir), mas recomenda o uso de preservativo em relações sexuais para evitar contaminação por outras doenças (Foto: Antônio Fuchs)

Segundo Beatriz, quem usa a Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP) também não transmite o vírus. Ela ressaltou ainda que o Brasil é referência mundial e que todo o tratamento é oferecido sem custo para o paciente. No entanto, no cenário atual, é preciso dar as mãos. “Oferecemos hoje o que há de melhor no tratamento de Aids no mundo. Diagnóstico, tratamento e prevenção estão disponíveis gratuitamente no SUS. No entanto, sabemos que o momento é crítico e, por isso, temos de nos unir para evitar que esse direito seja perdido”, assinalou.

Lorani Sabatelly é agente de promoção da saúde, especializada em HIV e IST, sífilis e hepatites virais. Ex-profissional do sexo e ex-usuária de múltiplas drogas, ela atravessou toda a epidemia dos anos 90 sem se contaminar. Atualmente, decidiu aderir ao programa para utilização da PrEP.

Hoje, aos 46 anos, faz parte do projeto da Fiocruz para uso da Profilaxia Pré-exposição ao HIV (PrEP). “Sou não-reagente e decidi entrar para ficar mais tranquila. Passei por uma avaliação, fiz uma bateria de exames e entrei no PrEParadas, integrado por 120 pessoas no Brasil. Já tomo PrEP há um ano, passei por nova bateria de exames e está tudo perfeito comigo. Não sinto absolutamente nada de efeitos colaterais”, ressaltou Loraine. Ela fez questão de frisar que a profilaxia não protege contra outras doenças sexualmente transmissíveis. “Tem surgido muitos casos de sífilis e hepatites virais. Por isso, o melhor método de prevenção ainda é o preservativo”, observou.