A vice-diretora Núbia Boechat entre as coordenadoras Mariana de Souza e Alessandra Viçosa

Foi dada a largada para a I Jornada de Pós-graduação Acadêmica em Pesquisa Translacional de Fármacos e Medicamentos, promovida pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) e destinada aos alunos e docentes do Programa de Pós-graduação em Pesquisa Translacional de Fármacos e Medicamentos (PPG-PTFM).  A abertura, no dia 8/11, contou com as presenças da vice-diretora de Educação, Pesquisa e Inovação (VDEPI), Núbia Boechat, e das coordenadoras do departamento de Educação, Mariana Conceição de Souza e do PPG-PTFM, Alessandra Lifsitch Viçosa.  

Convidada para a conferência de abertura, a professora Virgínia Martins Carvalho, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordou o tema “Melhoramento do uso medicinal da cannabis através do acesso popular à análise instrumental”. Ela apresentou uma reflexão sobre o uso recreativo, terapêutico e tradicional da cannabis, falou sobre os resultados do seu projeto FarmaCannabis (2017/2022) e sobre os objetivos do atual “Etnosaúde em Movimento”, que aborda as práticas de saúde a partir da cultura e baseado em produtos naturais. Citando relatos sobre experiências positivas com cannabis, particularmente, pacientes pediátricos portadores de epilepsia (EPI), ela explicou também que cannabis é um termo que se refere aos medicamentos feitos à base de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC).  

Professora Virgínia Carvalho (UFRJ)

Virgínia disse que seu projeto ajudou a melhorar a produção e o manejo de terapias, a obtenção de dados analíticos e que a universidade deu visibilidade e legitimidade a pesquisa. Ainda viabilizou novos projetos, propiciou o atendimento de ofícios judiciais e o monitoramento de cultivos e suporte na preparação de extratos da cannabis, além de citar a parceria com o INCQS/Fiocruz para o fortalecimento da capacidade técnica. 

A ciência é movida pela dúvida. Como construir pontes entre o conhecimento tradicional e a tecnologia moderna. Muitos fármacos, por exemplo, foram e estão sendo sintetizados a partir do conhecimento tradicional, do uso de um produto natural. Utiliza uma planta, isola uma substância e vê que ela fica mais barata na síntese do que extrair da planta. É preciso quebrar tabus. A saúde pública está se excluindo de fazer algo primordial para a saúde por uma questão de marginalidade regulatória”, afirmou. 

Ao concluir, Virgínia Carvalho fez um convite à reflexão. A pesquisadora perguntou se a química analítica pode ser uma ferramenta de transformação da forma de fazer pesquisa ou é para perpetuar o status quo? Citando o exemplo do tabaco, que partiu dos costumes tradicionais para o mercado, alertou que a nicotina é uma ferramenta terapêutica só que a sociedade teve uma forma de usar equivocada. Ao sair do costume tradicional (rapé indígena) para a industrialização, Virgínia questionou qual foi o ganho trazido pela exploração comercial do tabaco para a população e aos povos tradicionais?  

Isso está acontecendo com a cannabis agora. Temos que recobrar o uso terapêutico da cannabis, mas existe o interesse das grandes indústrias de tabaco e de bebidas. Mas nós, como pesquisadores e agentes de saúde, temos que levar para reflexão”, concluiu.

Mesa de abertura – A coordenadora Mariana de Souza afirmou que a maior parte dos cursos são voltados para assistências farmacêuticas e oferecidos por instituições de ensino superior. Já o de Farmanguinhos, é em pesquisa translacional, em um instituto de pesquisa e dentro de uma fábrica. Que todos devem aproveitar essa oportunidade. 

Trabalhamos em um eixo bastante importante e estamos formando pessoas que vão atuar na pesquisa científica e temos a esperança de que agora a ciência voltou e estamos formando pessoas para estar nesse espaço de ciência”, ressaltou a coordenadora do setor de Educação de Farmanguinhos. 

Representando o diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça, a vice-diretora Núbia Boechat corroborou com a fala de Mariana e complementou que o curso em Farmanguinhos era algo muito esperado, sendo aprovado o de mestrado e doutorado no mesmo ano.  

A nossa capacitação e o envolvimento com o curso, a ciência e o saber refletem diretamente nas teses e dissertações. Há um alinhamento com uma área produtiva farmacêutica que nos traz um diferencial muito grande. O curso profissional é totalmente alinhado com a área de produção, com dissertações de questões de dentro da fábrica. Também temos um viés maior, o de estar alinhado com os objetivos da Fiocruz e de Farmanguinhos na área de produção farmacêutica, não só na produção do medicamento, mas em todas as suas etapas de pesquisa e desenvolvimento, que nos alinha com os objetivos do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) e Farmanguinhos está alinhado a quatro programas dentro do CEIS. O empenho dos docentes e discentes traz cada vez mais qualidade para galgar um espaço mais alto dentro da qualificação na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Desejo que esse primeiro evento seja um marco importante e que realmente a ciência voltou”, ressaltou Núbia Boechat. 

A abertura contou também com a apresentação do InovaFito Brasil, plataforma virtual de classificação de projetos, pela assistente técnica de gestão de projetos da VDEPI Cristiane Mota.  

Premiações – Ainda no primeiro dia de evento, houve apresentações orais representativas de cada linha de pesquisa do PPG-PTFM – Química Medicinal, Farmacologia e Tecnologia Farmacêutica. Os alunos selecionados foram submetidos a uma banca avaliadora e premiados.  

O melhor trabalho foi de Gabrielle Pereira Neves (Isolamento cromatográfico de dois ésteres de forbol do látex de euphorbia umbellata – janaúba ativos na reversão da latência do HIV).  As menções honrosas foram para Gustavo Werneck de Souza e Silva (Avaliação in vitro da atividade farmacológica de aurelianolídeos isolados de athenaea fasciculata var. fasciculata em linhagens de leucemia humanas) e para Amanda de Oliveira Esteves Moreira (Desenvolvimento de formulação obtida pela tecnologia de impressão 3D contendo isoniazida para o tratamento da infecção latente de tuberculose em crianças).

“Pesquisa Translacional em Medicamentos” foi o tema da mesa redonda, mediada por  Thadeu Estevam Moreira Maramaldo Costa (CDTS/Fiocruz), que contou com as participações de Michele Georges Issa (DEINFAR/USP), que abordou o tema  “A interação que move a formação: A experiência do DEINFAR nas parcerias com a iniciativa privada e o case Vonau Flash“; Rita de Cássia Elias Estrela Marins (INI/Fiocruz/UFRJ), que apresentou  “O papel da farmacocinética clínica na pesquisa translacional de medicamentos: oportunidades e desafios”; Laís Bastos da Fonseca (SEFAR/Fiocruz), que falou sobre “Como ter êxito num estudo de equivalência e bioequivalência farmacêutica? Uma visão de impacto desde o desenvolvimento até o lote industrial” e Valber da Silva Frutuoso (IOC/Presidência/Fiocruz), que discorreu sobre “Biodiversidade e Saúde no Contexto Fiocruz – Uma abordagem estratégica na busca de novos medicamentos.” 

Essa mesa redonda foi organizada de forma a representar a temática central do curso, que é fazer da pesquisa translacional um instrumento potencial para acelerar a inovação e aproximar resultados de pesquisas científicas com aplicações eficazes no atendimento das demandas do Complexo Econômico-Industrial da Saúde”, ressaltou a coordenadora do evento e do PPG-PTFM, Alessandra Lifsitch Viçosa. 

Programação completa do evento