Beatriz Patrício, doutora em Biofísica, realiza análises de estabilidade de emulsões e suspensões na Turbiscan, na área analítica

O advento da tecnologia surgiu com equipamentos grandes, robustos, para oferecer novas descobertas, praticidade e conectar a população. Com o passar dos anos, a inovação proporcionou máquinas muito menores, com diversas funções compactadas, mais agilidade, exatidão e conexão. Pensando nessas dimensões cada vez muito menores, as micro e nanopartículas estão sendo muito utilizadas em variados segmentos, inclusive para os medicamentos, sendo consideradas a nova revolução industrial.

Em Farmanguinhos, o Laboratório de Micro e Nanotecnologia (LMN), ligado ao Departamento de Inovação Galênica, da Vice-diretoria de Educação, Pesquisa e Inovação (VDEPI), realiza pesquisa e atua no desenvolvimento tecnológico, através destes elementos que são medidos em nanômetros, sendo um nanômetro equivalente a um bilionésimo de metro.

O responsável pelo LMN, Helvécio Rocha, explicou a utilização destas partículas na área farmacêutica.

“A nanotecnologia opera tanto na inovação incremental, de trazer melhorias para algo já existente, quanto na inovação radical, onde é fundamental para existência do desenvolvimento de uma determinada molécula. Ela é muito utilizada para poder direcionar a molécula para o alvo em que se deseja a atuação e, por exemplo, no tratamento do câncer, isso faz toda a diferença para tratar direto no foco e diminuir os efeitos colaterais e a toxicidade.  É aplicado para as mais diversas patologias, doenças de alto custo e negligenciadas e ainda nas mais variadas vias de administração, como intravenosa, oral, tópica,…”, descreveu.

Helvécio ainda revelou que a nanotecnologia é aplicada em diversos segmentos, como nas áreas de petróleo, militar, automobilística, para peças de avião, pelo fato de ser mais leve e resistente que o aço e, até mesmo, para coletes à prova de bala.

No Instituto, o laboratório, criado em 2011, era ligado à Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico, chamado de Laboratório de Sistemas Farmacêuticos Avançados (LaSiFA). Após aprovação de dois projetos de maior aporte financeiro, conseguiu um espaço próprio no Prédio da Expansão, em Manguinhos. O espaço foi montado com mais de 20 equipamentos modernos, distribuídos nas áreas analítica e de processamento.

Marcelo Chaves, mestre em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento na Indústria Farmacêutica, durante o processo de moagem no Moinho Coloidal, na área de processamento do laboratório

Linhas de pesquisa e números – Atualmente, o LMN possui três linhas de pesquisa: Ciência e engenharia de materiais, Micro e nanotecnologia e Regulação, voltada para o desenvolvimento de fármacos e medicamentos. Além disso, o laboratório é uma plataforma de prestação de serviços e já realizou mais de 100 análises externas. São realizadas parcerias com seis unidades da Fiocruz, como Bio-manguinhos, IOC, INCQS, entre outras, e com 22 laboratórios de instituições diferentes, como UFRJ, UFF, entre outras instituições do Rio de Janeiro, Minas Gerais e da Bahia.

É importante destacar que, hoje em dia, o laboratório conta com o trabalho de três doutores, dois mestres e os bolsistas de iniciação científica, mestrado e, em breve, doutorado. O laboratório tem sete projetos aprovados, com fomentos para pesquisa ou bolsas e seis alunos internos e externos em orientação. Ao todo, 25 alunos de mestrado já foram orientados e, desde 2011, foram publicados mais de 25 artigos. O laboratório também conquistou 19 prêmios nacionais e internacionais.

Micropartículas de nanocristais de efavirenz, produzidos por moinho de pérolas e secagem por spray dryer

Helvécio destaca uma pesquisa que tem a perspectiva de produto mais forte, que é a anfotericina B, utilizado para tratamento de leishmaniose e outras doenças fúngicas. “Atualmente só existe via injetável, onde o paciente deve ser internado para que possa ser medicado. Estamos desenvolvendo ele para administração via oral, na fase de formulação de protótipo e na fase pré-clínica, os testes in vivo já estão sendo realizados. Além do produto em si, o domínio da tecnologia é muito importante para que possa ser aplicado em outras pesquisas”, contou.

Além do LMN, dentro da Fiocruz, outros laboratórios estudam a micro e nanotecnologia. Por isso, foi criado um grupo chamando de FioNano, para que houvesse mais integração entre as Unidades. Para Helvécio, na área da saúde, principalmente nas vacinas e no diagnóstico, a tecnologia já é muito utilizada e a complementariedade entre os parceiros é fundamental.

“Podemos dizer que a nanotecnologia é multidisciplinar ou transdisciplinar, porque dificilmente conseguimos fazer sozinho. Nós, por exemplo, fazemos somente testes in vitro no laboratório e, quando precisamos de testes in vivo ou microscopia, contamos com nossos parceiros”, esclareceu Helvécio. 

Prospecções e desafios – Como objetivos a curto e longo prazo, o laboratório pretende finalizar os projetos que estão em fase de desenvolvimento, consolidar o serviço de plataforma de prestação de serviço, devido à importância deste trabalho para Farmanguinhos e para a Fiocruz como um todo, e dar encaminhamento para o Sistema da Qualidade do laboratório, com a conquista de certificações, como Boas Práticas de Laboratório e a ISO 9001.

Helvécio destaca a industrialização como um dos desafios da nanotecnologia. “Na maioria das vezes temos bons resultados em laboratório, mas nem todas as empresas tem domínio e tecnologia suficiente para aplicar em uma escala de mercado. O Brasil precisa ainda avançar nesse sentido. Na área farmacêutica é sempre um pouco mais lento, pelo fato do processo regulatório ser mais complexo”, revelou.

Mesmo enfrentando alguns gargalos do país, o laboratório acredita na tecnologia portadora do futuro e no alto potencial de mercado que ela apresenta. Farmanguinhos possui uma equipe altamente especializada no assunto, equipamentos de ponta, que poucos laboratórios têm, e abordagens e tecnologias absorvidas para diversas aplicações.

Equipe do LMN, formada por Beatriz Patrício, Helvécio Rocha, Livia Prado, Marcelo Chaves, Francisco Júnior e Flávia Paiva