A Unidade promoveu uma roda de conversa sobre a CDD a fim de estimular o debate sobre a realidade do território, as políticas públicas que estão sendo aplicadas e as possíveis estratégias de reforço para saúde, educação, segurança e assistência.

Durante o evento, Jorge Mendonça destacou que região tem um grande potencial econômico, mas, pela insegurança, muitas empresas do entorno encerraram suas atividades (Foto: Tatiane Sandes)

A Cidade de Deus é uma das principais comunidades do Rio de Janeiro, com cerca de 60 mil habitantes, 50% dos quais vivem abaixo da linha de pobreza, isto é, com até 89 reais por mês. Além da extrema miséria, essa população enfrenta o crescimento desenfreado e alarmante da violência e a falta de acesso a serviços essenciais, tais como saúde e educação. Neste cenário desafiador, Farmanguinhos promoveu a roda de conversa Cidade de Deus, como vamos?

O evento foi organizado pela Assessoria de Gestão Social (ASG), no dia 24/7, e reuniu moradores, representantes de instituições sociais da localidade e de entidades públicas, além de trabalhadores da Casa. O objetivo foi discutir a realidade atual do território e as possíveis estratégias de reforço para as políticas públicas.

O diretor da Unidade, Jorge Mendonça, destacou as severas consequências decorrentes da violência e também a necessidade de identificar soluções práticas e eficazes: “Há uma desindustrialização ocorrendo no país, em especial no Rio de Janeiro, com uma velocidade muito agressiva. Nossa região tem um grande potencial econômico, mas, pela insegurança, muitas empresas do entorno encerraram suas atividades, o que deixa de gerar emprego e renda na localidade, além de contribuir para essa vulnerabilidade. Essa é uma ótima oportunidade para nos reunirmos e criarmos uma pauta positiva, com soluções inovadoras, para ser proposta para os governantes e para a iniciativa privada a fim de revertermos essa situação”.

Jacob Portela, coordenador da AGS, apresentou um diagnóstico social da comunidade, considerando o período de 2009 até hoje, com dados demográficos, saúde, educação e segurança. “De acordo com o censo do IBGE de 2010, a CDD possui 36.515. Óbvio que essa população aumentou muito. Hoje, estima-se que seja de mais de 60 mil habitantes. Os números mostram que houve redução dos números de violência com a presença da UPP, melhorando a condição de vida dessas pessoas e os serviços prestados à comunidade. Com o término desse programa, os índices subiram e a situação se agravou: aumento no número de casos de mortes por causas externas, sendo agressões como principal causa. A maioria das vítimas é do sexo masculino, predominância parda e negra com idade entre 15 e 19 anos. Na saúde, mortes por doenças do aparelho circulatório, respiratórias e neoplasias, crescimento dos casos de tuberculose (126 no ano de 2017) e de gravidez na adolescência (a maioria sem pré-natal). Na educação não é diferente, crianças e jovens estudam de forma precária e muitas vezes não têm aula, seja pela violência ou pela falta de professores”, observa.

Educação foi um dos temas abordado na roda de conversa: Cidade de Deus, como vamos? (Foto: Tatiane Sandes)

“Queremos trabalhar a população através da saúde preventiva e não curativa, como vem ocorrendo, principalmente no “centrão” da comunidade, onde o acesso é mais difícil e a condição de vida é mais precária e há maior exclusão. Mas para isso, precisamos de pessoal, de recursos humanos. Esse é o nosso maior déficit. Hoje atendemos com uma equipe muito enxuta para a quantidade de famílias que há na comunidade. Precisamos de mais psicólogos, pedagogos, assistentes sociais para, assim, podermos ampliar os nossos atendimentos”, ressaltou Cristina Branco, gestora do CRAS Elis Regina.

Segundo a educadora Maria das Graças Lima, há um grande índice de abandono escolar. “Somente neste ano, até o momento, já tivemos quase 200 casos. Muitos vão sendo reprovados, vão ficando mais velhos e desistindo de estudar. Estamos correndo atrás desses alunos para trazê-los de volta para a escola. Hoje há um programa nas escolas, onde um funcionário fica responsável por acompanhar as infrequências, nos encaminhar os dados daqueles que tentaram recuperar e não conseguiram para que a CRE vá à frente, ou seja, informe ao Conselho Tutelar e tente reverter a situação”, explicou.

Durante o encontro, os participantes reforçavam a necessidade de unirem esforços para mudar a realidade da comunidade. A partir dessa conversa, os participantes puderam pontuar as demandas iniciais e pensar nos próximos passos. De acordo com a assistente social Magali Portela, que atua na Assessoria de Gestão Social da unidade, as operações policiais impactam as ações dentro do território.

“Portanto, esta demanda vamos apresentar ao comandante do 18º batalhão. Outro fato importante é a nossa representação nos Conselhos de Direito (Escolar, Assistência e Saúde) porque as demandas da comunidade são levadas através deles e a representatividade da Cidade de Deus não pode ficar delegada a uma só pessoa e, que às vezes, nem interage com o coletivo ou tem informações suficientes para responder por todos. Vamos qualificar esse participante para que ele tenha dados reais da comunidade, de seus problemas, e de fato nos represente. É importante também nos atentarmos às fragmentações do espaço, a atuação em algumas necessidades que acabam sendo inferiores ao que a comunidade precisa como um todo para ter um impacto na sua mudança, na sua transformação. Farmanguinhos está abrindo esse espaço para que seja um ambiente técnico para trazer essas demandas junto com as organizações sociais e pautar as reais necessidades, visando o apoio de todos”, enfatizou Magali.