Unidade promove encontro virtual de três gerações da ciência Farmacêutica. Núbia Boechat, Lívia Prado e Aryella Correa falaram sobre suas respectivas trajetórias neste segmento

Em mais uma ação em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, Farmanguinhos realizou uma roda de conversa com as cientistas e colaboradoras da unidade Núbia Boechat, Lívia Prado e Aryella Correa. De gerações distintas, elas discorreram sobre suas trajetórias, conquistas e perspectivas para o segmento. O encontro virtual foi mediado pela coordenadora do Departamento de Educação, e também cientista, Mariana Souza, e transmitido pelo canal da instituição no YouTube.

 

Durante no encontro, Mariana Souza justificou a necessidade de ter um dia dedicado ao tema, apresentando dados e curiosidades relacionadas à participação das mulheres na Ciência, como a quantidade ainda inexpressiva de ganhadoras do Prêmio Nobel, uma das principais premiações mundiais para reconhecimento de pessoas que desenvolvem trabalhos, ações e pesquisas em benefício da humanidade nas categorias de Medicina, Física, Química, Literatura, Paz e Economia.

“Hoje é um dia especial. E para mostrar a importância de se ter esse Dia das Mulheres e Meninas na Ciência, eu trago um dado, que é a quantidade de mulheres laureadas pelo Prêmio Nobel. Quando a gente pensa que dos 975 contemplados até hoje apenas 59 são mulheres, a gente consegue entender a dimensão dessa desigualdade e a necessidade de falar sobre a mulher na Ciência”, esclareceu.

Mariana, ainda, explicou como a data foi criada e motivo da escolha do tema da live. “Para corrigir um pouco essa desigualdade, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs um objetivo de desenvolvimento sustentável que inclui o combate à desigualdade de gênero. Uma das ações sugeridas é fortalecer e estimular a participação de mulheres na Ciência. E por isso foi criado, no dia 11 de fevereiro, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. E para mostrar que o lugar de mulher também é na Ciência Farmacêutica, convidamos três mulheres que se destacam nessa área, de diferentes gerações e atuações dentro do segmento”, elucidou.

 

A roda de conversa, dividida em três blocos, teve como primeiro tema a motivação para atuar na Ciência Farmacêutica.

Aryella Correa fez questão de frisar que a Farmácia é que a escolheu. “Participei de um congresso e, quando eu apresentei o meu trabalho, um professor da USP me perguntou se eu sabia o que eu iria fazer. Respondi que não. Ele falou: Então, a Farmácia te escolheu. E mais ainda, a Farmacologia. Depois disso, eu pesquisei a grade do curso e percebi que era mesmo isso que eu queria. Encontrei a minha vocação. A diversidade de atuação e possibilidades, desde a pesquisa ao resultado final, é o que mais me motiva”, contou.

Já Lívia Prado encontrou sua vocação desde a época da faculdade de Farmácia, quando começou a iniciação científica em Farmanguinhos. “Eu fiquei muito encantada pela pesquisa e pela possibilidade de propor determinadas soluções a partir de um estudo teórico ou experimental. Eu sempre trabalhei em laboratório, na área de desenvolvimento de medicamentos. E essa foi a minha maior motivação. Hoje, um dos meus maiores estímulos é entender que o meu trabalho tem um impacto, de fato, para que sejam distribuídos medicamentos de qualidade para a população”, ressaltou.

Diferentemente delas, Núbia Boechat iniciou a carreira na área química e só passou a ter contato com o segmento farmacêutico depois que veio para a unidade.

“Apaixonada pela Química Orgânica, fui fazer iniciação científica no Instituto de Pesquisa de Produtos Naturais, onde comecei a desenvolver a minha carreira. Quando eu comecei a trabalhar na Fiocruz, vim para Farmanguinhos, que é uma unidade farmacêutica, e mudei a minha atuação. Eu deixei de trabalhar exclusivamente com química e fui mesclando com a ciência farmacêutica, atuando com química medicinal”, relatou.

No segundo bloco, as convidadas explicaram como o fato de ser mulher influencia na atuação profissional dentro das Ciências Farmacêuticas.

Núbia destacou a versatilidade feminina e a capacidade de lidar com muitas atribuições ao mesmo tempo, o que ajuda a superar as barreiras que surgem. “Ainda hoje a mulher encara muitas atividades: trabalho doméstico, carreira, cuidar dos filhos, dar atenção ao marido, lidar emocionalmente com tudo e ainda ter tempo para o autocuidado. É um desafio muito grande! Mas estamos vencendo, dia após dia, e ocupando o nosso espaço”, observou.

Aryella ressaltou a inteligência da mulher e a presença feminina na Ciência, que prova o quanto são competentes, apesar do descrédito que ainda sofrem. “No meu primeiro congresso de iniciação científica, além do meu pôster, também tive que apresentar o do meu coorientador porque ele teve um problema com o vôo. Embora eu fosse a segunda autora, o avaliador disse que eu era uma menina e duvidou da minha capacidade de apresentar o trabalho. Quando eu terminei a exposição, ele disse que não esperava esse resultado de uma garotinha. Eu respondi que garotinhas faziam milagres e que também podiam surpreender. Ele não esperava que eu soubesse o conteúdo e que eu fosse responder todas as perguntas dele. Eu e o meu coorientador trabalhamos juntos no projeto. Naquele congresso eu ainda recebi menção honrosa pelo meu pôster”.

Lívia reiterou a importância da representatividade feminina em qualquer ambiente de trabalho, exemplificando o quanto isso é fundamental no segmento farmacêutico.

“A mulher tem capacidade de trazer novas perspectivas para uma determinada questão. Na cadeia de desenvolvimento de um produto, por exemplo, há medicamentos que são usados em tratamentos de doenças tanto em homens quanto em mulheres, mas se utilizados por elas na mesma dose podem gerar eventos adversos muito maiores. Por isso que é importante tê-las pensando sobre isso e participando dos processos, para que tragam uma nova perspectiva do estudo”, argumentou.

No terceiro bloco, finalizando o encontro, as convidadas deixaram uma mensagem de incentivo para meninas e mulheres que querem entrar na área.

“Venham! Não deixem de fazer algo que vocês tenham vontade por medo ou pela dedicação que precisarão ter. A gente se une, se ajuda e vai construindo um caminho para alcançarmos os nossos desejos!”, encorajou Lívia.

“A Ciência Farmacêutica é uma área maravilhosa! É uma oportunidade imensa de desenvolver e com um leque enorme de opções de atuação. Estamos aqui abertas para recebê-las”, enfatizou Núbia.

“Nunca desistam dos sonhos de vocês. São eles que nos movem. Então, que esses sonhos possam direcioná-las à vocação de vocês. Independentemente das dificuldades encontradas pelo caminho, vocês vão conseguir superá-las e chegarão ao lugar desejado. Aproveitem todas as oportunidades que surgirem e acompanhem páginas de divulgação científica, para que vocês conversem com as cientistas a fim de se certificarem caso se identifiquem com a área”, aconselhou Aryella.

Para assistir ao encontro na íntegra, clique aqui.