Oficina com instituto francês IMT apresenta possibilidades de desenvolvimento de projetos científicos no país europeu

 

 

André Costa (CCS)

 

Uma oficina promovida conjuntamente pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Instituto Mines-Télecom (IMT), da França, apresentou diversas oportunidades de financiamento e pesquisa para pesquisadores brasileiros no país europeu. O encontro foi realizado recentemente na Escola Nacional de Saúde Pública, em Manguinhos, e reuniu mais de 30 pesquisadores e dirigentes de universidades, centros de pesquisa e agências de fomento à pesquisa, tendo por tema a relação entre saúde e engenharia.

 

O encontro teve por objetivo a formação de uma rede de excelência em engenharia e saúde entre o IMT e o Brasil. Foram discutidos possíveis desenvolvimentos futuros e objetivos, de modo a facilitar o compartilhamento e a troca de experiência entre os participantes. Prioridades científicas para a rede estiveram em pauta, assim como a identificação de possíveis projetos educacionais entre o IMT e instituições brasileiras.

 

“Queremos ir além das colaborações já existentes”, afirmou o gerente de Pesquisa e Inovação do IMT, Pierre Simay, na abertura do evento. “Também desejamos desenvolver parcerias para transferência de tecnologia, padrões de serviços, possivelmente chegar a laboratórios compartilhados. Estamos abertos para trabalhar juntos. Viemos aqui para nos apresentar, conhecer parceiros em potencial, e definir projetos e prioridades futuros”.

 

O encontro reuniu mais de 30 pesquisadores e dirigentes de universidades, centros de pesquisa e agências de fomento à pesquisa (Foto: Pedro Linger)

A pesquisadora Bernadette Dorizzi, do IMT, acrescentou que o instituto está fortemente conectado à tecnologia da saúde e a dispositivos médicos. “Temos experiência forte em materiais, em aparelhos médicos e materiais para a saúde. Isso inclui ossos artificiais, robótica médica, biossensores, genética e o uso de big data. Pesquisamos como podem ser usados em conjunto, para a engenharia e administração de hospitais”, afirmou.

 

A pesquisadora Cristiane Quental, representante do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), fez, em suas palavras, uma exposição “muito diferente” das anteriores, apresentando uma contextualização da pesquisa em saúde no Brasil. Segundo os dados que trouxe, apenas 3% das investigações na área são conduzidas em países de renda média e baixa. Apenas 1,2% do PIB brasileiro é investido em pesquisa e desenvolvimento, o que se traduz em barreiras para a inovação. Isto se agrava no contexto de crise e de diminuição de recursos atuais. “Com o congelamento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, não posso falar muito sobre investimentos, só que não sou muito otimista. Ainda estamos vivos, mas, por ora, temos dinheiro apenas para emergências”, disse.

 

Quatro domínios prioritários – Após as introduções, quatro subdomínios científicos específicos, definidos como prioritários para a rede em saúde e tecnologia, foram temas de apresentações: sistemas assistenciais ubíquos; organização de serviços em saúde; bioimagem e processamento; desenvolvimento de medicamentos. Estas apresentações contaram com pesquisadores brasileiros e franceses, com o objetivo de apresentar temas e desafios relevantes.

 

A apresentação sobre sistemas assistenciais ubíquos ficou a cargo de Rodrigo Varejão Andreão, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) e de Jêrome Boudy (IMT), que apresentaram eixos de pesquisa já desenvolvidos pelos institutos, em parceria também com a Universidade Federal do Ceará (UFC). As áreas de patologias crônicas, de patologias relacionadas a envelhecimento e de bem-estar em casa e no trabalho foram definidas como propícias para a aplicação de tecnologias como processamento e mineração de dados, interfaces para estudos do cérebro e tecnologias robóticas, eixos de pesquisa considerados importantes.

 

A parte de organização de serviços em saúde concentrou-se em quatro temas de interesse comum entre a França e o Brasil: acesso a atendimento básico e de emergência; processos de mineração de dados aplicados à saúde; elaboração de redes de saúde e de avaliação de desempenho; comparação entre o Brasil e a França no acesso a serviços de saúde para pacientes que sofreram derrames. A apresentação ficou a cargo de Rodrigo Lemos (Universidade Federal de Goiás), de Mario Jorge Ferreira de Oliveira (UFRJ) e de Vincent Augusto (IMT).

 

Os pesquisadores Isabelle Bloch, do IMT, e Roberto Marcondes Cesar, da Universidade de São Paulo (USP), apresentaram o cenário para colaboração em bioimagem e processamento de sinais. Avanços teóricos e metodológicos para responder a necessidades médicas, análise de imagens, criação de modelos e de simulação e métodos de diagnósticos são alguns dos campos de maior interesse para o desenvolvimento de colaborações interinstitucionais.

 

Maria Ines Ré, do IMT, foi a responsável pela última oficina, sobre desenvolvimento de medicamentos. A pesquisadora falou sobre diversas parcerias já existentes no Brasil, incluindo a colaboração com Farmanguinhos/Fiocruz. Em conjunto, as duas instituições desenvolvem ou já desenvolveram tratamentos de tuberculose, esquistossomose e de leishmaniose (este último, em parceria também com a UFRJ). A pesquisadora discorreu também sobre os desafios da produção de fármacos hoje, incluindo impactos sociais e desafios científicos.

 

Oportunidades de pesquisa – Em seguida, o Gerente de Pesquisa e Inovação do IMT, Pierre Simay, apresentou diversas oportunidades de pesquisa na França. Entre elas está o Programa Marie Slodowska Curie, que concede bolsas individuais. O programa tem o propósito de “expandir o potencial criativo e inovador de pesquisadores experientes desejando diversificar suas competências individuais em termos de aquisição de habilidades por meio de treinamento e mobilidade individual”. As inscrições para o programa podem ser realizadas no link, e ficam abertas até 17 de setembro de 2017.

 

Este programa faz parte da iniciativa Horizon 2020, que inclui também projetos coletivos. Para estes, no entanto, os participantes brasileiros precisam obter a fonte de seus financiamentos em agências de incentivo à pesquisa locais.

 

Outro programa apresentado foi o programa de cooperação entre a União Europeia e o Brasil Incobra, voltado para ciência e tecnologia, que está com chamadas abertas até 14 de março de 2017. A duração dos projetos propostos não deve exceder 36 meses.

 

Pesquisadores de Pernambuco e de São Paulo, por sua vez, podem aplicar para um projeto da Agência Nacional de Pesquisa francesa (ANR, na sigla em francês), que está com chamada aberta para pesquisadores em tecnologias da informação e da comunicação e em ciências humanas e sociais. Informações podem ser obtidas no site.

 

A listagem de oportunidades apresentadas, incluindo oportunidades fechadas para pesquisadores da Fiocruz, pode ser acessada no link.

 

Na conclusão do evento, foi decidido que será desenvolvida uma plataforma para a colaboração entre as instituições presentes, e que uma oficina em parceria entre o IMT e os demais órgãos está marcada para acontecer em 2017.