Especialistas franceses e do Brasil discutem com os estudantes do doutorado, mestrado e da especialização, soluções para problemas da saúde pública brasileira

Mesa institucional composta por Rosa Souza, vice-diretora da Escola de Governo em Saúde da ENSP, Maria da Conceição Monteiro, do CIBS e Coordenadora do curso, Ilka Vilardo, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS) e Mariana de Souza, Coordenadora da Educação / Foto: Viviane Oliveira

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) realizou mais um curso de curta duração com abrangência internacional, construído em parceria com a Coordenação de Educação de Farmanguinhos e com o Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Escola da Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) / Fiocruz, visando atender o edital da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC). Destaca-se que o projeto pedagógico do curso foi elaborado por Maria da Conceição Monteiro, Regina Nacif da Costa, Orlando Nascimento, José Maldonado e Laís Costa.

A abertura do evento ocorreu no Salão Internacional da ENSP, constituído de uma mesa institucional com Maria da Conceição Monteiro, do CIBS e Coordenadora do curso, Mariana de Souza, Coordenadora da Educação, Rosa Souza, vice-diretora da Escola de Governo em Saúde da ENSP, e Ilka Vilardo, do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS).

Maria da Conceição explicou como surgiu a parceria com a Universidade Paris 8 e a relevância do tema para a saúde pública. “O acordo com a universidade francesa acontece desde 2010, quando foram realizadas intervenções socianalíticas junto a equipe do então, Núcleo de Gestão da Biodiversidade e Saúde e outras, direta ou indiretamente, ligadas às RedesFito. Ao longo dos anos, foram realizados Acordos de Cooperação Internacional que incluíram o intercâmbio acadêmico, os quais são efetivamente acompanhados pela equipe do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS)”, afirmou a coordenadora do curso.

A mesa técnica abordou os métodos das Epistemologias e da socianálise, com conceitos, diferenças entre terminologias e colheu informações dos alunos, através de apresentação individual / Foto: Viviane Oliveira

A mesa técnica da abertura foi composta por Laís Costa, da ENSP, os Socianalistas da Universidade Paris 8, Christiane Gilon e Patrice Ville, e da Professora Inês Barbosa, professora da UERJ, UNESA e colaboradora da Universidade de Coimbra. Inês destacou a relação entre as Epistemologias do Sul e a Socianálise. “É um privilégio trabalharmos juntos os princípios das Epistemologias do Sul, que são semelhantes aos princípios da Socianálise. Eu vejo com muita clareza essa relação que vamos estabelecer e poderemos trabalhar e aplicar o dispositivo da Socianálise, colocando em diálogo saberes que os diferentes atores desse curso têm, que somos nós e os estudantes, a respeito das questões relacionadas à saúde pública”, frisou.

Embora as experiências socianalíticas venham sendo realizadas há nove anos no Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde, desta vez, a versão em 2019 tem uma proposta inovadora, pois através da Socianálise busca tornar visíveis os fenômenos e o modo de ser de culturas invisíveis. O tema central buscou possibilidades de fazer eclodir, através da metodologia de intervenção socianalítica, as Epistemologias do Sul em projetos multidisciplinares de saúde, a partir de propostas de estudo de caso apresentadas pelos estudantes e analisadas pelos especialistas que atuam no Brasil, Portugal e em Paris.

O curso foi bastante dinâmico, com roda de conversa entre os estudantes e os especialistas, aulas com fundamentação teórica e, no último encontro, houve a aplicação dos conceitos aprendidos em casos concretos, extraídos das experiências profissionais. Os especialistas puderam discutir os problemas que os estudantes apresentaram, visando refletir, a Socianálise e as Epistemologias do Sul, soluções que poderiam ser concebidas.

Epistemologia significa ciência e conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas relacionados com a crença e o conhecimento, sua natureza e limitações. Para os pesquisadores, a reflexão, a postura crítica diante das demandas, utilização de metodologias participativas são essenciais a projetos que envolvem a saúde. As duas abordagens trazem contribuições importantes para estabelecer o diálogo, o confronto e a inclusão social de atores e, finalmente, o consenso que permita o alcance das metas propostas em projetos multidisciplinares.

Diogo Digo e Erica Fontes são alunos do mestrado de Farmanguinhos e Itana Scher, farmacêutica que atua na Bahia na área de fitomedicamentos e em ações comunitárias / Foto: Viviane Oliveira

Itana Scher, farmacêutica e atuante nas causas sociais e comunitárias, veio da Bahia para participar do curso e agregar a teoria à sua prática. “Eu não conhecia a socianálise e me surpreendeu, porque tem muitas aplicabilidades no dia a dia, com formas de utilização bem práticas. O tema tem tudo a ver com o que eu estudo, que é a parte de humanas dentro da saúde. Pude ficar no Rio de Janeiro e me dedicar, buscar artigos no assunto, trazer dúvidas. Foi muito enriquecedor e vou poder pegar o conhecimento aqui e difundir o conhecimento lá na Bahia”, contou a aluna.

Os estudantes eram de variadas áreas de estudo, com graduações em Farmácia, Biologia, Química, e com vivências e contextos diversificados, inclusive de outros estados brasileiros, como da Bahia. Ilka Vilardo reforçou a importância da multidisciplinariedade e da Cooperação Internacional. “A Fiocruz é uma instituição, que nasceu com a Cooperação Internacional. Oswaldo Cruz estudou no Instituto Pasteur, em Paris. A Fiocruz tem esse diferencial. Uma das estratégias da instituição é cada vez mais se internacionalizar, tanto na área acadêmica e científica, mas também na cooperação técnica e na mobilidade de alunos. A iniciativa deste curso é de explorar a troca de aprendizados, saberes, vivências e pontos de vista diferentes. Destacando também a questão da multidisciplinariedade entre as diversas áreas da ciência que a Fiocruz abraça”, complementou a Assessora de Cooperação Internacional, do CRIS.

Será elaborado um relatório com as propostas levantadas nas dinâmicas participativas sobre o estudo de caso apresentado. Este documento será publicado em cumprimento à Política Institucional de Acesso Aberto ao Conhecimento da Fiocruz.

Christiane Gilon, Patrice Ville e Inês Barbosa realizaram teoria, prática e algumas discussões sobre as Epistemologias do Sul e a socianálise, com auxílio das idealizadoras do curso, Maria da Conceição Monteiro e Regina Nacif / Foto: Viviane Oliveira