Evento aconteceu na Tenda da Ciência da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e reuniu pessoas de todo o Brasil
Do Amazonas ao Rio Grande do Sul, agentes de todo o Brasil se reuniram nesta sexta-feira (25/7) para a construção coletiva de uma agenda voltada para o desenvolvimento sustentável. Organizado pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), por meio do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS), a reunião aconteceu durante o I Encontro de Gestores dos Núcleos das RedesFito, na Tenda da Ciência da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Com mais de 50 representantes dos 18 núcleos presentes, um dos objetivos do evento foi promover a organização interna da rede para a articulação entre os núcleos e alinhamento de agendas conjuntas voltadas à inovação em medicamentos da biodiversidade, à soberania sanitária e ao desenvolvimento de uma bioeconomia ecológica a partir dos territórios.
O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, esteve presente no local. Além de falar sobre a importância do evento, ele fez uma provocação aos representantes. “Somos uma instituição de pesquisa e ciência, sempre disposta a cooperar com os que apoiam o desenvolvimento. Somos, também, uma das instituições mais influentes dentro do Complexo Econômico-Industrial de Saúde. Temos responsabilidade por produção e inovação, a fim de ampliar o acesso da população brasileira a produtos. O meu desafio para os presentes é colocar em perspectiva o que podemos fazer além do que já temos feito”, disse.


O encontro marcou um momento de fortalecimento das ações colaborativas voltadas à implantação de políticas públicas pertinentes, sobretudo, atreladas a projetos de desenvolvimento no campo dos medicamentos da biodiversidade. “Juntos, estamos criando um espaço de diálogo e inovação, onde a colaboração de todos é fundamental. O trabalho em rede promove a inclusão e o desenvolvimento sustentável, ampliando parcerias e estreitando laços. Essa é uma oportunidade de crescimento e transformação”, afirmou a representante da Coordenação de Atenção à Saúde da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS), Carla Felizzola Rodrigues.
Para a diretora de Farmanguinhos/Fiocruz, Silvia Santos, o encontro evidencia o compromisso do Instituto com a saúde pública ao articular diferentes atores e regiões em torno de uma agenda que respeita a diversidade do nosso país e promove o acesso à saúde de forma ética, segura e inclusiva. “Este é um momento simbólico e estratégico, que representa a consolidação de uma rede que une ciência, território, biodiversidade e saúde, com um objetivo comum. Uma ação que auxilia no fortalecimento do SUS, por meio da valorização dos saberes tradicionais, da inovação em fitoterápicos e do desenvolvimento sustentável”, declarou a diretora de Farmanguinhos/Fiocruz, Silvia Santos.
18 anos das RedesFito
O evento também celebrou o aniversário das RedesFito. Há 18 anos, as redes existem a fim de organizar um ambiente que desse suporte à implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e inovação a partir da biodiversidade brasileira. Em 2010, o Sistema Nacional das RedesFito foi incorporado à Farmanguinhos/Fiocruz, com a gestão de 18 Arranjos Produtivos Locais em seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Pampa.

“Ao longo destes anos, vivenciamos muitas mudanças no Brasil e no mundo, que tiveram um grande impacto na inovação em medicamentos da biodiversidade. Por outro lado, as RedesFito promoveram iniciativas que resultaram em um acúmulo de experiência do qual todos nós fazemos parte. Por isso, devemos assumir essa responsabilidade e pensar nos próximos passos que daremos para pôr em prática o que debatemos”, explicou o coordenador do CIBS, Glauco Villas Boas.
A fala foi reforçada pelo coordenador nacional das RedesFito, Jefferson Pereira. “As redes têm um trabalho que caminha há um longo tempo e esse é o primeiro passo que, apesar de pequeno, é muito importante para nos organizarmos enquanto rede. Precisamos nos reconhecer enquanto pessoas, olhando olho no olho e compartilhando experiências. Vamos discutir e pensar num novo modelo de desenvolvimento e, atualmente, mais do que nunca, devemos pensar na soberania do nosso país e lutando em um campo hegemônico”, argumentou.
Programação estratégica
Em roda, os gestores dos núcleos das RedesFito foram apresentados em uma dinâmica de teia. A integração permitiu que começassem a se conhecer efetivamente, com nomes, locais em que vivem e sua formação. O próximo passo envolveu a apresentação de temas específicos e estratégicos para a discussão do desenvolvimento.
Amanda Corrado, por exemplo, esteve na Tenda da Fiocruz pare representar Ouro Preto/MG. O núcleo ao qual participa foi criado há apenas um ano, em abril de 2024, dando a oportunidade compartilhar seu reconhecimento neste tempo. Com o tema “Identidade e Pertencimento do Núcleo: nada é nosso, tudo é comum”, ela falou sobre a importância de saber gerir bens comuns, como a água, e a identificação da população com o que está sendo feito no local, traduzindo o conhecimento tradicional para o conhecimento científico.


Integrante do Núcleo de Santana do Livramento/RS, a Dra. Adriana Trevesian, falou sobre “Arranjos EcoProdutivos Locais: inovação além da competição”, momento em que ela pode abordar conceitos como a Eco Inovação. Para ela, a inovação tradicional não é focada em ecologia, mas na competição.
Já a Eco Inovação prevê a composição de elementos que potencializam uns aos outros, sendo uma mistura do conhecimento tradicional, da diversidade das espécies e do manejo integrado
Já o coordenador do polo Juá Caatinga das rotas da Biodiversidade, Jackson Roberto Guedes, focou no tema da “Inovação em Medicamento da Biodiversidade em Rede”. Na oportunidade, ele evidenciou o Brasil como fonte importante de moléculas bioativas, além de ser o país com a maior biodiversidade do planeta e um número importante de pesquisas. No entanto, poucos são os resultados efetivos para a produção de fitomedicamentos. Em dados trazidos por ele, há apenas 420 fitoterápicos registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 12 no Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename). Desses, apenas dez são de plantas nacionais, com somente um sendo considerado 100% brasileiro.


Mariana Esteves, do Núcleo Jequitibá de Cachoeiras de Macacu/RJ, destacou os financiamentos e a importância da criação de marcas coletivas. Além de destrinchar os financiamentos e os possíveis parceiros nesta caminhada, como editais de fomento público e privados e emendas parlamentares federais e estaduais, Mariana trouxe os motivos pelos quais uma marca coletiva pode ser benéfica para um projeto. Segundo ela, uma marca impõe respeito e promove o desenvolvimento regional e proteção da propriedade intelectual.
Apresentação dos núcleos
Representantes desses arranjos, dos mais diversos grupos, tomaram a frente do palco para falar um pouco sobre a sua experiência dentro das RedesFito, seus desafios e suas perspectivas. Rafael Cabral viajou do Belém do Pará para falar sobre os processos do Núcleo Uxi e elogiou a iniciativa.

“Muitas das políticas que falamos hoje já estão em implementação no Brasil, como é o caso do Pará, mas passam por desafios bastante significativos. Isso porque envolvem órgãos públicos que não compreendem a necessidade de um arranjo EcoProdutivo e de profissionais capacitados para liderar e manter esses projetos. Ao sair do nosso território, nos deparamos com soluções para esses problemas, o que intensifica o trabalho que temos feito até aqui e ajuda a fortalecer essas políticas”







