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Maria José Alves é Gente de Far

“Querer é poder”. Quem nunca ouviu essa frase? Pode parecer até clichê, mas essa citação define muito a nossa entrevistada do Gente de Far, que começou sua carreira na unidade, em 2005, como auxiliar de serviços gerais, e, sempre que limpava algum laboratório, se imaginava trabalhando naquele local. Com muito esforço, se formou em Biologia e há 9 anos atua na Seção de Controle Microbiológico, dentro do laboratório, analisando medicamentos, matérias-primas, materiais de embalagem, água e o ambiente fabril. Conheça a história e a trajetória profissional de Maria José Alves.

Uma mistura da mãe e do pai, tanto no nome quanto na personalidade. Zezinha, Zezi, Zequinha, Zé, Zezé… cheia de apelidos, ela revela que, quando criança, não gostava do nome. “Eu não gostava do meu nome e sempre dizia que, quando eu crescesse, que tivesse 18 ou 19 anos, eu iria mudá-lo. Teve uma época que eu queria me chamar Gabriela, depois Marisa. Inclusive, na oitava série, eu assinava as provas como Marisa e os professores ficavam loucos, pois não havia ninguém com esse nome na turma. Minha mãe foi chamada na escola e eu apanhei por isso”.

Criada no bairro de Vargem Grande, onde mora até hoje, a filha da dona Nair Maria e do seu José teve uma infância simples. Ela e seus sete irmãos, sendo uma antes da caçula, cresceram em um sítio, onde seu pai mantinha uma plantação de banana para garantir o sustento da família. Com carinho, ela relembra dessa época:

“Minha mãe era do lar e meu pai, feirante. Ele plantava banana e vendia na feira da Rocinha. Éramos pobres, mas felizes. Eu era muito levada e apanhava todos os dias da minha mãe. Já fiz muita arte, como jogar pedra no telhado do vizinho e tacar fogo no galinheiro. Naquela época, não tínhamos muitos recursos e brinquedos como hoje, mas a gente se divertia muito. Eu gostava de brincar de cozinhar usando um fogão improvisado de pedra e panelas feitas com latas de sardinha e de leite. Também brincava de pique lateiro, amarelinha… Eu tive uma infância muito boa”, conta.

E se tinha algo que Zezé detestava, quando nova, era estudar. Sua mãe sempre falava da importância dos estudos, mesmo sem muita instrução, mas ela nunca deu atenção. Inclusive, ela ficou 22 anos longe da escola por opção (algo que se arrepende).  Mas sua percepção mudou quando entrou em Far, onde vislumbrou a oportunidade de retomar seus estudos e crescer na instituição, tornando-se uma referência para sua família, sendo a primeira com ensino superior.

“Imagina a honra da minha mãe se ela estivesse viva. Logo eu, a rebelde, que fugiu da escola, ser a primeira a se formar. Na verdade, a única entre os meus irmãos. Ela ficaria muito orgulhosa”, ressalta.

Mas antes de falarmos sobre essa história de superação, precisamos retomar a sua trajetória no Instituto. Emocionada, Zezé narra como chegou aqui:

“Eu entrei aqui, em 2005, para trabalhar como auxiliar de Serviços Gerais. Eu fiquei impressionada com o que vi (um lugar grande e cheio de computadores), algo que eu não estava acostumada. Eu limpava as salas, mas o que mais chamava a minha atenção eram os laboratórios. Eu me imaginava trabalhando em um deles. Com o tempo, o interesse aumentava e foi aí que decidi investir nos estudos. Eu havia terminado o segundo grau, em 2002, e, com o dinheiro que sempre sobrava do meu salário, e com o incentivo dos meus colegas de trabalho, comecei a fazer faculdade de Biologia na Souza Marques. O mais engraçado é que, quando eu era pequena, eu era fascinada por essa instituição de ensino, eu amava o uniforme e sonhava em estudar lá, mas meus pais não tinham condições. Depois de tanto tempo, eu consegui”.

Fotos do período em que trabalhava como auxiliar de Serviços Gerais

Em 2007, com o término do contrato da empresa de limpeza, Zezé saiu de Far. “Eu não queria sair daqui de jeito nenhum, mas a empresa que entrou estava oferecendo um salário muito baixo. Eu precisava manter meus estudos”, conta.

No ano de 2009, ela recebe um convite para voltar ao CTM. Desta vez, para trabalhar no restaurante, como auxiliar administrativo. “Eu nem acreditei que eu estava voltando a trabalhar em Farmanguinhos. Quando cheguei aqui, quase que eu beijei o chão! Eu agradeci tanto a Nossa Senhora da Penna (igreja que fica no alto de uma pedra e que conseguimos ver aqui do CTM). Chorei e tudo, pois tenho paixão e orgulho em trabalhar nessa instituição, de contribuir, de alguma forma, com a saúde da população”, revela.

Mas a atuação no restaurante durou apenas um ano. Em 2010, por intermédio da sua chefe imediata do restaurante, Ivana, conseguiu transferência para a Microbiologia, onde passou a atuar como auxiliar de laboratório e a colocar em prática os ensinamentos que estava obtendo na faculdade. E lá se vão 9 anos se dedicando as análises de cada etapa do processo produtivo.

No Laboratório de Microbiologia, ao lado das amigas Patrícia e Carla.

Engana-se quem pensa que Zezé sempre sonhou em ser bióloga. “Eu fiz auxiliar de Primeiros Socorros e auxiliar em Enfermagem, na Cruz Vermelha. Gostei tanto de Enfermagem, que resolvi fazer o Técnico no Curso Tavares Lira.  Queria fazer faculdade, mas era muito cara. Por indicação, optei pela Biologia, já que também me permitiria trabalhar na área de saúde e atuar em laboratório. Comecei a pesquisar e me interessei. Além disso, também contei com o incentivo de amigos de Far, como a Neuza Orlando, Jorge Alexandre (que não trabalha mais aqui), Patricia Costa e Carla Mororó. Essas últimas, me ajudaram muito. Tudo o que eu sei, eu aprendi com elas. Ao final, eu acabei me identificando com a Biologia. Entretanto, em Far, eu consigo atuar nas minhas demais áreas de conhecimento, uma vez que faço parte da Brigada de Incêndio da unidade. Uma oportunidade para ajudar e ainda fazer o que gosto”, expõe. 

Orgulhosa, Zezé mostra os resultados obtidos após uma análise de água.

Sobre a sua rotina, ela explica como funciona a atuação da Microbiologia: “Imagina que você precisa fazer um bolo. Você tem que avaliar a forma, os ingredientes… assim é a Microbiologia, para produzir um medicamento, é necessário analisar tudo que irá compô-lo, não só as matérias-primas, como também os maquinários e o local da fabricação”.

Maria José fazendo análises dentro da Sala de Testes

Quando questionada sobre o seu maior desafio profissional, ela não titubeia e responde: “A primeira vez que eu trabalhei sozinha na sala de teste, onde os produtos são avaliados, foi muito desafiador. Na ocasião, analisei o xarope Sulfato Ferroso. Fiquei receosa no início, pois são muitas informações e detalhes que precisam de atenção, mas no fundo eu sabia que eu podia, que eu estava preparada. Por isso que eu digo que todo mundo é capaz de aprender alguma coisa, mesmo com toda dificuldade. Se você quer, você pode”.

E quem disse que ela está satisfeita? Em relação ao futuro, Zezé anuncia seus planos: “Quero retomar a pós-graduação em Microbiologia e fazer faculdade de Química”.

 

Divisão de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico (DGDT)


Carla Justino, do Laboratório de Validação e Métodos Analíticos (LDVA), realiza o perfil de dissolução do isoniazida + rifampicina, em fase de desenvolvimento

Farmanguinhos é um laboratório ímpar no país, por abarcar toda a cadeia produtiva de um medicamento, desde a pesquisa de base até o produto final. A instituição é um braço estratégico do Ministério da Saúde, inclusive na condução das Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Apesar de toda a importância que essa política de estado representa para o país, a unidade atua também no desenvolvimento interno de novos produtos.

Neste sentido, a Divisão de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico (DGDT), vinculada à Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico (CDT), é a área que congrega todas as atividades inerentes à realização de estudos internamente, ou seja, não provenientes de PDP. “São projetos de desenvolvimento a médio e longo prazo, que envolvem um grau de incerteza intrínseco ao desenvolvimento tecnológico, o que é diferente da transferência de tecnologia”, ressalta Juliana Johansson, coordenadora da área.

Ela tem a importante tarefa de coordenar uma área que envolve quatro setores, sendo o Escritório de Projetos e três laboratórios. Em relação ao Escritório de Projetos, além de Juliana, o setor é composto por mais três profissionais, que executam a função de gerentes de projetos: Lucyenne Barbosa, Graça Guerra e Daniel Lacerda. Eles são responsáveis por acompanhar todos os projetos em seu ciclo de desenvolvimento tecnológico.

Esses projetos internos são elencados a partir de demandas do Ministério da Saúde. Para se ter uma ideia, atualmente, o Instituto conta com 18 projetos institucionais de desenvolvimento ou redesenvolvimento de medicamentos, ou seja, estudos realizados internamente. “São projetos de desenvolvimento e redesenvolvimento com diversos objetivos específicos em seu escopo”, ressalta a coordenadora.

A estrutura do DGDT é composta ainda por dezenas de profissionais alocados em seus respectivos laboratórios: Laboratório de Tecnologia Farmacêutica (LTF), Laboratório de Validação e Métodos Analíticos (LDVA) e o Laboratório de Estudos do Estado Sólido (LEES). “O desenvolvimento tecnológico propriamente dito ocorre nesses três laboratórios. O LTF desenvolve as formulações e os processos produtivos; o LDVA desenvolve e valida as metodologias analíticas; e o LEES é responsável por todo o estudo de caracterização do estado sólido”, salienta a servidora.

Daniel Lacerda, Juliana Johansson, Thiago Costa, do LTF, Rafael Seiceira, do LEES, Graça Guerra, Lucyenne Barbosa, e Diogo Dibo, do LDVA

Ela observa que os projetos de absorção tecnológica, isto é, proveniente de PDP, também passam também pela DGDT, uma vez parte do suporte técnico é fornecido pelos laboratórios vinculados à área. “Contribuímos no processo operacional das transferências de tecnologia, principalmente pela atuação do LTF e do LEES, e a gestão das PDP é realizada pela AGPAT (Acompanhamento da Gestão de Absorção Tecnológica)”.

Atividades – Com essas funções definidas, a DGDT fica responsável pelo desenvolvimento e redesenvolvimento internos de formulações, processos produtivos e metodologias analíticas. Além disso, há também projetos com parcerias externas, dentre os quais, o Praziquantel Pediátrico, cuja formulação está sendo viabilizada por meio de uma cooperação entre empresas de diferentes países, grupo esse denominado Consórcio Internacional Praziquantel Pediátrico.

“Esse projeto traz muito conhecimento para Farmanguinhos, principalmente sobre a dinâmica internacional de registro. Ele abre horizontes de conhecimento e pode nos auxiliar também na qualificação de outros produtos nossos. Adquirimos muitos conhecimentos em procedimentos para fazer um desenvolvimento tecnológico que, desde o início, sela elaborado com formato que nos permita conseguir registros internacionais, ou uma pré-qualificação mais rapidamente junto à Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

Além desta importante iniciativa internacional, Farmanguinhos, por meio da DGDT, tem parceria com o René Rachou (CPRR/Fiocruz Minas) para o desenvolvimento do gel de paramomicina, antibiótico para leishmaniose cutânea.

Além destes, há a iniciativa para o desenvolvimento de um antirretroviral para as crianças que vivem com o vírus HIV/Aids. “O trabalho do meu Doutorado é o desenvolvimento do atazanavir pediátrico para atender a uma demanda do Ministério da Saúde. Ainda não estamos com o projeto oficialmente aberto, mas a tendência é que, com o amadurecimento do estudo, e constatada a viabilidade desse investimento, é possível que se torne oficial. Estamos buscando patrocínio em agências de fomento para tentar viabilizar mais este desenvolvimento”, destaca Juliana.

A servidora argumenta que esse medicamento foi uma demanda do Ministério da Saúde e que esse projeto está sendo trabalhado em parceria com outras unidades da Fiocruz e outras instituições, como a UFRJ, por exemplo.

“A DGDT trabalha com pesquisa voltada para atender a saúde pública a médio prazo. Os projetos de pesquisa básica são muito relevantes, mas têm um olhar mais de longo prazo. Nossa missão é desenvolver pesquisas aplicadas, por meio de desenvolvimento tecnológico, para gerar produto em um prazo menor. É com essa visão que estou buscando capacitar a equipe e fortalecê-la para trabalharmos a fim de concretizar entregas ao Ministério num cenário mais próximo”, argumenta.

Além da visão estratégica para atender as demandas do Ministério da Saúde, a DGDT atua também no redesenvolvimento de produtos, processos e métodos analíticos que requerem melhorias, através dos laboratórios que dão suporte à área produtiva. Trata-se da atuação em pós-registro, que inclui implementações de melhorias, alteração de equipamentos e otimizações, sejam tecnológicas, produtivas ou econômicas.

“A DGDT nos permite estudar o tempo todo, é uma área que não esgota a formação nunca. Temos uma equipe multidisciplinar. O LTF é composto exclusivamente por Farmacêuticos. Já nos laboratórios analíticos (LDVA e LEES), a formação é variada, englobando farmacêuticos, químicos, engenheiros químicos, técnicos em química, dentre outros profissionais. É muito interessante ter diferentes profissionais também contribuindo, uma vez que a visão analítica de um farmacêutico é diferente da do químico. Portanto, essa multidisciplinaridade dentro de um laboratório só agrega para a instituição”, frisa.

Desafios e perspectivas – A Divisão de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico tem se articulado para viabilizar os projetos. A área discute o desenvolvimento de tecnologias de implementação imediata, que requer menos investimentos. Apesar de o país atravessar uma fase econômica adversa, a área tem recorrido a agências de fomento para conseguir recursos para desenvolver tecnologias e produtos mais modernos.

É com essa postura estratégica que a Divisão de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico tem atuado, sempre com o propósito de atender as demandas do Ministério da Saúde e, consequentemente, oferecer os melhores tratamentos para os pacientes assistidos pelo SUS.



Juliana Johansson é Gente de Far

Juliana com parte da equipe da CDT: Graça Guerra, Alessandra Esteves, Luciene Barbosa (Arquivo pessoal)

A paixão por Farmácia começou muito cedo. Quando criança, lia bulas de medicamentos e admirava os profissionais que inventavam essas fórmulas da cura para incontáveis patologias. Os anos se passaram, ela cresceu e esse amor irremediável só aumentou. Porque, na verdade, ela nasceu para fazer medicamento!

“Quando eu era criança, ficava lendo bula de medicamentos. Coisa de gente louca, né? Mas eu achava interessante. Eu lia aqueles nomes e ficava pensando em quem fez aquilo (medicamento) e o quanto devia ser difícil. Imaginava que a pessoa tinha de estudar muito. Então, eu sempre gostei dessa área de saúde e, especificamente, ligada a medicamentos, desde sempre. E quando eu fiz Farmácia, já fui sabendo o que eu queria. Não tinha maturidade ainda para entender o que era um desenvolvimento tecnológico, mas, naquela minha cabecinha lá de trás, eu queria era fazer remédio”, frisa Juliana Johansson Soares Medeiros.

Usar os recursos tecnológicos, a capacitação de um grupo de pessoas para promover a saúde, trazer o bem-estar, a cura para doenças, saber que o meu trabalho afeta de maneira positiva a saúde das pessoas, isso é uma recompensa de vida

“Como andei desde a minha formação, sempre motivada pelo crescimento profissional. Quando eu me formei, logo saí de Curitiba, porque o mercado farmacêutico não era aquecido, principalmente a área na qual eu queria atuar. Passei por todos esses lugares, entrei no concurso que, por coincidência, fiz a prova foi no dia do meu aniversário, em 24 de outubro de 2010. E nesse meio tempo, eu comecei a namorar um cearense que morava aqui”, relembra a servidora que, como presente, segurou o 1º lugar numa concorrência de 99 pessoas por vaga.

Juliana e Daniel Lacerda em viagem a países africanos para acompanhar mais uma etapa do projeto de desenvolvimento do Praziquantel pediátrico (Arquivo pessoal)

Lacônica com as palavras e um fenômeno profissional. Apesar das conquistas, prefere atribuir o sucesso à dedicação e às habilidades profissionais. “Inteligência para mim tem vários conceitos. Nessa abordagem de inteligência múltipla, eu me considero habilidosa para a área que eu trabalho. Mas eu não sou inteligente em todas as áreas. Esse estereótipo, na verdade, a gente deve desconstruir. Um jogador de futebol, por exemplo, pode ser extremamente inteligente no contexto da habilidade dele: tem visão de estratégia, percepção espacial, enfim. Então, a gente tem que desconstruir esse estereótipo da inteligência”, ressalta.

Ela não mediu esforços para alcançar os objetivos. Formou-se farmacêutica industrial pela Universidade Federal do Paraná, em 2002. Desde então, atua na área de desenvolvimento tecnológico. “A faculdade de Farmácia naquela época tinha uma grade básica de três anos e, a partir daí, havia uma divisão em que se optava por Farmácia Industrial ou Análises Clínicas. Eu fiz Farmácia Industrial já pensando em ir para a indústria, em aprender os conceitos técnicos da área, pensar em trabalhar com desenvolvimento tecnológico”, explica.

Para fazer aquilo que a vocação pré-determinara lá na infância, teve de buscar oportunidades longe de casa. Assim que se formou, deixou o Paraná, seu estado natal. Foi para o polo farmacêutico de Anápolis, em Goiás, de onde seguiu para Minas Gerais anos mais tarde. Depois migrou para o Rio Grande do Sul até, finalmente, chegar ao Rio de Janeiro, mais precisamente em Farmanguinhos. O passaporte foi a aprovação no concurso público da Fiocruz de 2010.

Essa habilidade tem sido empregada na Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico (CDT), área que ela atua da chegada ao Instituto até hoje, desde a formação, na verdade. “Desde que eu vim para Farmanguinhos, eu atuo na Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico. Entrei no LTF (Laboratório de Tecnologia Farmacêutica), como farmacotécnica. Essa área me fascina, sabe? Usar os recursos tecnológicos, a capacitação de um grupo de pessoas para promover a saúde, trazer o bem-estar, a cura para doenças, saber que o meu trabalho afeta de maneira positiva a saúde das pessoas, isso é uma recompensa de vida”.

Desenvolvimento tecnológico é uma paixão que transcende os limites do universo profissional. “Isso sempre foi um objetivo que se tornou uma satisfação de vida. É diferente, já que se trata de perseguir um objetivo para atingir metas pessoais e trabalhar com uma área que traz muita satisfação e muito retorno pessoal. Eu fiz o concurso como uma das estratégias para vir para o Rio, para uma instituição super admirada, que é a Fiocruz”, salienta.

Depois de formada, Juliana fez MBA em Gestão de projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Mestrado Profissional em Gestão, Pesquisa e desenvolvimento na Indústria Farmacêutica, por Farmanguinhos. Agora, encara novo desafio: está na primeira turma do Doutorado Profissional pioneiro do Brasil na área farmacêutica, também oferecido pelo Instituto.

Mesmo com toda essa demanda, a família é a maior prioridade.  “O mestrado foi bastante sacrificante, eu passava as madrugadas acordada, pois na minha vida pessoal só tinha lugar para meu filho. Eu faço questão de ser uma mãe presente, de dar atenção, de brincar, de ensinar. Daí, eu estudava depois que ele dormia. Agora no doutorado é assim também, só que em dose dupla. Eles dormem e eu começo a estudar”.

O Gabriel (seis anos) nasceu quando a mãe ainda estava no LTF. Na ocasião, Juliana defendeu a dissertação grávida da pequena Beatriz, com dois aninhos atualmente. Assim que terminou a licença maternidade, a servidora se transferiu para o Departamento de Gestão de Desenvolvimento Tecnológico (DGDT). Orgulhosa do local onde trabalha, Juliana faz questão de apresentar a instituição aos filhos.  Sempre que há atividades abertas ao público, lá estão os pequenos, atentos a esse fantástico mundo da Ciência.

E quando Juliana não está desempenhando os papéis até aqui relatados, ainda consegue um espaço na agenda para dedicar-se a uma atividade recreativa, se é se pode chamar assim. “Nas horas vagas eu faço jardinagem. Adoro cuidar de plantas e procuro me dedicar a essa atividade como um lazer mesmo, é um prazer cuidar das plantas e faço há bastante tempo”, revela.

De fato, as coincidências continuam a surpreender. Afinal, família, jardinagem e ciência requerem vocação e dedicação. Assim, semeando ciência e cultivando com dedicação, Juliana Johansson vai colhendo as flores que planta ao longo da vida.

 
 

Semana Nacional de Ciência e Tecnologia na Fiocruz

Farmanguinhos participará com oficina sobre plantas medicinais e as etapas da cadeia produtiva de uma indústria farmacêutica.

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Benjamim Gilbert é Gente de Far

Um dos pioneiros em estudos de fitoterápicos no país completa 90 anos de vida em plena atividade, atuando ativamente no CIBS e ampliando o seu legado na instituição

Que Dr. Gilbert é um pesquisador renomado e uma das principais autoridades na área de química de produtos naturais, destacando-se no campo da fitoterapia, todos já sabem. O que nos impressiona é vê-lo, aos 90 anos recém-completados, trabalhando ativamente em Farmanguinhos, no Centro de Inovação em Biodivesidade e Saúde (CIBS), e contribuindo para o grande legado que a instituição tem nessa área.

Com mais de 60 anos dedicados à pesquisa com ênfase na inovação em medicamentos da biodiversidade, o pesquisador mantém a sua rotina laboral em pleno vapor.

Todos os dias levanta cedo, sai da sua casa na Urca e encara o transporte público até o CTM.  Durante a viagem, aproveita o tempo para ler revistas especializadas e livros. Consigo, ele carrega sempre um caderninho e uma caneta, onde faz algumas anotações sobre o seu dia e lugares aonde esteve. Hábito que possui há alguns anos e que já acumula dezenas de livretes.

No seu dia a dia, como parte de suas atribuições, compartilha dados sobre plantas medicinais, considerando a química, a farmacologia, a toxicologia e o histórico. Tudo feito diretamente do computador, pela internet, algo impossível de se imaginar no início da sua carreira.

Quem pensa que aos finais de semana ele descansa, engana-se. Dr. Gilbert ainda tem fôlego para se dedicar às causas sociais. Há 13 anos ele participa de um trabalho com moradores de rua, no centro da cidade. “Gosto desse trabalho, de conversar com essas pessoas. É algo simples, mas faz uma diferença enorme para elas, que se sentem “gente”, aceitas pela sociedade”, comenta.  Antes desse projeto, ele já havia dado aula de escola dominical a crianças, em comunidades, por 20 anos.

Infância

Nascido em 27 de setembro de 1929, no leste da Inglaterra, Ben (como era chamado pela família) teve uma infância simples e, ao mesmo tempo, muito dura.

O filho caçula de William e Dorothy, gostava de brincar na rua com o irmão, Francis, dois anos mais velho, e os amigos, além andar de bicicleta e de colecionar insetos, sapos e selos. Mas, aos 10 anos, esse cotidiano tranquilo mudou. Ben se viu diante de uma situação difícil: com o início da Segunda Guerra Mundial e da ameaça de invasão à Inglaterra, teve que se afastar dos pais e se transferir para casas particulares no centro do país, juntamente com outras crianças. Com isso, precisou aprender a lidar com dinheiro e administrá-lo para comprar, dentre outras coisas, material escolar.  Os pais e as crianças se viam uma vez por ano e tinham notícias através de cartas. “Não tínhamos telefone e carro particular não circulava na guerra.  Voltamos para a nossa cidade e para os nossos pais, em 1942, quando o risco de invasão se afastou”, relembra.

Após a segunda guerra, a família de Ben passou a cultivar legumes e hortaliças em seu jardim como forma de sustento. É neste cenário que Gilbert descobre sua vocação, uma vez que precisou encontrar meios naturais para tratar e controlar as pestes que atacavam a plantação da sua família. Com isso, conheceu dois inseticidas naturais da floresta Amazônia e aprendeu a adubar a plantação com esterco de cavalos, que se abundavam com a falta de gasolina. “Foi assim que aprendi o cultivo orgânico e o uso racional de recursos naturais”, conta.

Foi no segundo grau que ele passou a ter contato com a ciência e a matemática. Durante as aulas de química, o jovem Ben fazia diversas experiências.  Já as de matemática, se desafiava a fazer os exercícios mais complexos.  Nessa fase, como fator crucial, teve como inspiração um de seus professores, Sr.Ransome, mais idoso e o único que mão foi para a guerra, com quem aprendeu a entender e a se encantar pela química fazendo diversos experimentos.

“O sr. Ransome falava que não devíamos nos contentar com as informações que tínhamos nos livros ou que ouvíamos falar. Uma vez, ele perguntou a um colega da turma qual era a fórmula da água e o menino respondeu que era H2O. Ele questionou como ele sabia que era essa composição, que respondeu que leu no livro. Foi quando ele disse que deveríamos verificar antes de tomar aquela resposta como verdade. Eu fiquei com isso na cabeça e até hoje eu checo tudo antes de confirmar algo. Ele também me incentivava a fazer experimentos. Eu aproveitava meu tempo livre para ir para o laboratório da escola para fazer sínteses e descobrir coisas novas”, revela. 

Trajetória Profissional

Com formação em Química e doutorado em Química Orgânica, ambas pela universidade de Bristol, Dr. Gilbert já demonstrava seu potencial no doutorado quando descobriu uma substância 100% levo-rotatória, a partir de matérias primas sem atividade ótica, algo inédito e que lhe concedeu o título de Doutor sem necessidade de defesa de tese. Em seguida, fez pós-doutorado pela universidade Wayne State e enfatizou, ainda mais, a sua carreira na área de produtos naturais.

Em 1958, recebeu convite do professor Carl Djerassi, seu orientador do Pós-doutorado, para viajar ao sul do México e ficar por cinco dias conhecendo a floresta tropical. Lá, através do professor, recebeu um convite para viajar ao Brasil para trabalhar com o professor Walter Mors no Instituto de Química Agrícola (IQA) do Ministério da Agricultura (atual Embrapa). Depois disso, passou por diversas instituições, como o Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também atuou como professor visitante, a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (CODETEC), o Instituto de Pesquisas da Marinha – IPqM dentre outras, até chegar a Fiocruz, em 1986.

Reconhecimento

Reverenciado durante 4ª edição do Simpósio Internacional (Foto: Alexandre Mattos)

Reconhecido e homenageado por várias instituições nacionais e internacionais ao longo da sua carreira, Gilbert é autor de 120 publicações científicas abrangendo a química de plantas nativas, algumas medicinais, e o controle de doenças endêmicas.  Tal material serve de referência para estudos com vegetais. Além disso, em Farmanguinhos, há um prêmio que leva o seu nome, com objetivo de incentivar novos estudos, para trabalhos de profissionais e alunos de pós-graduação apresentados em três áreas de atuação (Pesquisa, Desenvolvimento e Gestão). Essa honraria é entregue durante o Simpósio Internacional sobre Desafios e Novas Tecnologias na Descoberta de Fármacos e Produção Farmacêutica.

As homenagens por tudo o que ele representa não param por aí. Em comemoração pelos seus 90 anos, o Centro de Inovação em Biodivesidade e Saúde (CIBS) está elaborando uma biografia para contar a história do pesquisador, desde a sua infância até os dias atuais.  A previsão é que esteja pronta até o final deste ano.

Desafios

Mas a trajetória do pesquisador não é feita só de conquistas. Quando questionado sobre o momento mais difícil da sua carreira, Dr. Gilbert responde:

“Não tive nenhum momento difícil na minha carreira, mas tive projetos que me causaram frustração. Aqueles que eu pude identificar, mas não consegui que eles seguissem adiante. Eu poderia fazer uma lista desses projetos, de plantas ou produtos, que poderiam controlar determinada doença ou praga e não são desenvolvidos, ficam na publicação por falta de visão das autoridades, que não acreditam na fitoterapia ou no poder da complexa tecnologia embutida na biodiversidade que permite a continuidade de vida na terra. O motivo comercial aconselha-nos a transformar a substância da planta em outra substância sintética para poder registrá-la. Assim se descarta a formulação otimizada da planta, programada para permanecer ativa indefinidamente, livre da resistência comum às drogas sintéticas”, lamenta.

Conselho

Para os novos e futuros pesquisadores, ele deixa o seguinte ensinamento:

“É importante fazer o que se gosta e, principalmente, se qualificar. Aqui no Brasil, principalmente, o diploma (papel) é fundamental. Quem tem doutorado, por exemplo, ganha mais. Entretanto, nem sempre, ter doutorado significa alguma coisa, já que o conhecimento não é aplicado. É preciso sair da teoria e ir para a prática. Hoje, os pesquisadores deveriam dar atenção aos problemas sociais, como as doenças mentais, álcool e drogas, as parasitoses comuns à área rural, as viroses, a tuberculose decorrente em parte da má distribuição de renda… Não é fácil de resolver, já que a mentalidade humana é egoísta e não pensa em ajudar quem está atrás. Mas é preciso objetivar a pesquisa em algo útil, essa é uma filosofia que dá entusiasmo para continuar”.

Fórmula da Longevidade

Se ele pensa em parar? Claro que não! “O Brasil não tem fim. Eu poderia trabalhar aqui por mais uma vida de 90 anos”, ressalta.

Com isso, depois de ler essa matéria, você deve estar se perguntando: Qual é o segredo de tanta longevidade? Como ele consegue chegar aos 90 anos tão ativo, lúcido, e com essa disposição? E ele nos responde:

“Eu tenho a minha crença religiosa que me faz recorrer a Deus para me ajudar. Nunca me faltou emprego e eu nunca tive nenhum problema sério de saúde.  Também acredito que devemos manter uma atividade física, além da mental. Hoje, o carro é um inimigo porque a pessoa entra no veículo, vai para o trabalho e volta, sem fazer nenhum exercício. Atualmente, eu venho trabalhar de condução pública e assim preciso subir e descer escada, entre metrô e ônibus”, revela.

Sem dúvidas, uma inspiração para todos nós.

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