Cientista de Farmanguinhos, o Inglês se dedica a estudos com plantas medicinais por mais de 50 anos

O pesquisador do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), Benjamin Gilbert, que integra o Centro de Inovação em Biodiversidade em Saúde (Cibs), recebeu o título de pesquisador emérito da Fiocruz.
A homenagem foi concedida durante a celebração do 121º aniversário da Fundação que, neste ano, em função da pandemia, foi realizado virtualmente.

Além de Benjamin Gilbert, de Farmanguinhos, foram contemplados André Furtado, pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco); Bodo Wanke, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz); e Samuel Goldenberg, pesquisador do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná).

A celebração virtual contou com a presença da presidente Nísia Trindade, os quatro homenageados e os diretores dos Institutos representados pelos pesquisadores, como Farmanguinhos, Aggeu Magalhães, Evandro Chagas e Carlos Chagas

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, parabenizou os pesquisadores pela grande contribuição para suas unidades, para a Fiocruz como um todo e ao sistema de ciência e tecnologia do país. “Os quatro homenageados de hoje têm grande importância para a ciência brasileira em termos globais e são exemplos de liderança e inovação para novas gerações, não somente em linha de pesquisa, como também com contribuições à gestão da nossa Instituição. São pesquisadores de referência, e é um grande orgulho para a nossa Instituição prestarmos esta singela, porém muito sincera, homenagem”, salientou presidente.

Nísia explicou que a premiação é uma iniciativa dos institutos aos quais os pesquisadores são vinculados. A proposta é apreciada pelo Conselho Deliberativo da Fiocruz a partir de critérios da qualidade da obra, da referência e continuidade do trabalho de pesquisadores, que permanecem na Instituição mesmo quando já poderiam estar usufruindo do descanso, mas permanecem com valiosas contribuições.

O diretor de Farmanguinhos, Jorge Mendonça, apresentou a trajetória do pesquisador inglês desde que chegou ao Brasil, até as grandes conquistas na área de biodiversidade. “Aos 92 anos, Dr Gilbert ainda trabalha conosco em Farmanguinhos. Com uma bela trajetória e vasta produção acadêmica, o professor é referência no Brasil e no exterior, por uma vida dedicada ao avanço da química, da fitoquímica e da ciência, pela defesa da produção pública de medicamentos, por uma luta incansável pela fitoterapia desenvolvida com todo rigor e também pela valorização do conhecimento tradicional”, destacou Mendonça.

O diretor concluiu a homenagem destacando a indicação pelo Conselhos Deliberativos da unidade e da Fundação. “Parabenizo o Dr. Gilbert pela premiação, como fruto de um trabalho científico e tecnológico realizado com dedicação e amor à profissão. Parabenizo o CD-Fiocruz e o CD-Far por esta justa homenagem”, frisou.

Glauco Villas Bôas, responsável pelo Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS) de Farmanguinhos, destacou a versatilidade do pesquisador e atuação no Instituto. “O dinamismo do professor é indescritível. Ele sempre sabia tudo que acontecia no Brasil relacionado a plantas medicinais. Ele tinha os principais contatos e informações coletadas em viagens exploratórias ou em eventos em todo o país e no exterior. Participou de estudos de viabilidade, workshops e foi fundamental na construção do portfólio de Inovação a partir da Biodiversidade, assinado por Farmanguinhos” observou.

Durante a cerimônia virtual, Benjamin Gilbert reforçou os marcos de sua trajetória e destacou algumas conquistas.

“É um prazer estar presente com todos estes nossos colegas. Trabalhei no programa de valorização das plantas brasileiras e após orientação do CNPq, trabalhei com um grupo de doenças endêmicas, como esquistossomose, e depois Doença de Chagas, então já trabalhava com alguns projetos da Fiocruz. Quando focamos os estudos em Doença de Chagas, conseguimos romper o ciclo do barbeiro com êxito. O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde declararam o Brasil livre de transmissão da doença. Este trabalho foi concluído com resultado muito positivo e representa um grande feito que posso mencionar em minha carreira. Fiz parte do comitê para controle de vetores da Organização Panamericana de Saúde e também atuei na OMS como consultor temporário na área de medicamentos e participei de muitas monografias e livros sobre o assunto. Minha caminhada em Far é de muitos estudos voltados para a fitoterapia”, observou Dr. Gilbert.

Para o pesquisador, um desafio a ser superado no país é a dependência de importação de insumos e muitos medicamentos. “Se houver qualquer problema ou guerra e não podermos importar, não teremos um único medicamento no Brasil. É o mesmo caso das vacinas, que estamos dependendo de insumos vindos do exterior. Temos que produzir de forma independente, sem importar nada. Passei a me interessar por plantas medicinais, já que não precisam ser importadas. Temos muitos produtos ativos, muitas vezes superiores aos sintéticos, mesmo não sendo reconhecidos plenamente pela medicina. Temos muitas opções interessantes de terapias que podem ser produzidas a partir de plantas medicinais”, afirmou o pesquisador.

Trajetória de grandes marcos – O químico Benjamin Gilbert, conhecido como professor Gilbert, nasceu na Inglaterra em 1929 e veio para o Brasil em 1959. Iniciou sua atuação no antigo Instituto de Química Agrícola, hoje conhecido como Embrapa. Auxiliou na fundação do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde atuou como professor visitante até 1972, orientando alunos de pós-graduação.

Gilbert atua na Fiocruz desde 1986, onde se tornou uma das principais referências na área de Química de Produtos Naturais, com autoria de mais de 120 publicações científicas e fazendo parte de estudos importantes sobre fitoterapia.  Propôs estudos voltados para doenças endêmicas e criou linha de pesquisa de doenças tropicais, mais especificamente Esquistossomose, Doença de Chagas, Malária e Leishmaniose. O pesquisador também foi chefe do grupo de Bioquímica do Instituto de Pesquisas da Marinha (IPqM) e orientador científico da Companhia de Desenvolvimento Científico (Codetec) por quase dez anos.

Em Farmanguinhos, Dr. Gilbert sempre teve uma grande atuação: auxiliou na construção do Departamento de Produtos Naturais, baseando-se nos estudos mais modernos na Europa, em especial na Alemanha; coordenou expedições na Amazônia, para estudos químicos e biológicos e protótipos para o desenvolvimento de fármacos e medicamentos. Como tecnologista e, posteriormente, consultor técnico do CIBS, o pesquisador vem atuando principalmente na padronização química de plantas medicinais, implantação da fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS) e produção de monografias sobre plantas medicinais.

Dr. Gilbert construiu uma vasta e rica carreira não somente dentro da Fundação, como também para a farmacopeia brasileira, por meio de estudos e monografias na área de produtos naturais. Seus estudos são citados em livros da OMS sobre plantas medicinais e Boas Práticas de Produção Agrícola e controles de qualidade e ambiental. Um conhecimento que influenciará novas gerações de pesquisadores e será base para diversos estudos que surgirão.

O pesquisador foi consagrado com outros prêmios, dentre os quais, a Medalha Simão Matias, condecorada pela Sociedade Brasileira de Química; Grancruz, pela Ordem Nacional de Méritos Científicos do Ministério da Ciência e Tecnologia; Medalha de Ouro, do Sindicato dos Químicos do Estado do Rio de Janeiro; e Químico do Ano, pelo Sindicato dos Químicos do Rio de Janeiro. Benjamin Gilbert também recebeu diploma como Professor Emérito da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto e, em Farmanguinhos, o Simpósio Internacional sobre Desafios e Novas Tecnologias na Descoberta de Fármacos e Produção Farmacêutica criou um prêmio Benjamin Gilbert para homenagear novos estudos relevantes para as áreas de pesquisa, desenvolvimento e gestão.

Em 2019, o professor Gilbert foi homenageado pelos 90 anos de idade pelas Redes Fito, do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (Foto: arquivo CIBS / antes da pandemia)